Um dia inesquecível na Tribo de Estrelas

Tive de parar a série memorial sobre a História do projeto para falar de um evento inesperado: conhecer a estátua da deusa Tara, finalmente hoje colocada no seu lugar, um altar de pedra, dentro do Espelho d’água, no campo de Shambala, um dos recantos mais belos do nosso território sagrado. Trata-se de uma escultura com cerca de 300 kg, esculpida em arenito e que, embora, adquirida há seis anos, nós não a conhecíamos, nunca abríramos a embalagem.
Primeiramente cabe a informação de que a Sociedade Espiritualista Tribo de Estrelas não tem predileções religiosas. Conhecemos a história universal do arrebatamento e da adoração, via imagens, e retiramos daí, tão somente os aspectos energéticos, momentum (ápice de precipitações práticas das energias), geralmente criados, sustentados e aumentados pelos adeptos de diferentes religiões.
Conheço pessoas, mesmo da minha família, que depois de muito tentar se alinhar a alguma crença, terminou indo à IURD, por exemplo, e lá encontrando seus arroubos e enlevos de fé. Por mais que eu discorde das marcas que os evangélicos põem, em seus adeptos, por lhes fazer seguir, no automático, determinados tópicos, inadmissíveis para o verdadeiro bem humanitário; tenho de reconhecer que servem, em algum momento, como formas de preparação para algo espritualmente ideal, ainda que bem mais tarde.
Aprendi que, antes de criticar, é necessário entender as necessidades individuiais. Noutras palavras: sei que as práticas evangélicas são falhas, incompletas e equivocadas, mas, cedo ou tarde, o adepto se liberta dessa pressão, podendo por causa disso vislumbrar a senda real da espiritualidade. Um dia, no futuro, não precisaremos de religiões, mas serão indispensáveis, os agentes entusiasmados pelos mistérios, para densificar as espirais de luz.
No caso das imagens, tão criticadas e evitadas, pelos evangélicos ou neutralizadas pelos kardecistas e espíritas, em geral, e tão veneradas e indispensáveis, para os orientais, os católicos, umbandistas e candomblecistas, o que vale é o resultado, a soma das atenções, intenções e fervores sinceros que todos os adeptos investem diante delas. 
A Tribo de Estrelas ganhou os totens budistas, induistas e católicos e os espalhou pelos jardins e no templo, não para adotá-los, mas para, por meio deles, inspirar o ciclo virtuoso que cada figura representa, sobretudo, depois de milênios de feituras oracionais e impulsos bem intencionados, provocados pelos crentes, das diversas correntes de fé.
Assim é que os budas existentes no campus da Tribo de Estrelas não nos ligam ao Budismo preferencialmente, mas nos inspiram a recolher das suas histórias, os estímulos práticos, regra geral; esquecidos ou deturpados ou ignorados pelos próprios adeptos e devotos.
Para ficar em um só exemplo: a deusa Kuan Yin, do altar principal do Templo da Tribo de Estrelas, está ali, não para ser venerada, mas para que, ao vê-la, nos recordemos da indispensável tarefa da humanidade de cultuar, praticar e expandir um estilo presencial de vida, pautado na compaixão. Explico definitivamente que, para nós da Tribo, só interessa a prática da compaixão e, ao expor a estátua, por mais estranho que pareça, fazemos uma crítica velada aos budistas e hinduístas que, por acaso, adorem Kuan Yin, sem exercer na rotina o ideal inadiável da compaixão.
Chegamos à deusa Tara, cujo nome significa estrela, em sânscrito, para marcar o momento histótico do nosso campus espiritualista. A estátua foi comprada há seis anos. Ela está para o Tibete, como Nossa senhora Aparecida está para o Brasil. A única diferença é que os católicos entregam à Nossa Senhora de Aparecida, os desígnios miraculosos, dos quais precisam, enquanto os tibetanos veem em Tara, a inspiração laboriosa, com vistas a alcançar sabedoria, via compaixão.
Aliás, aqui necessito esclarecer que os ocidentais veem os santos e entidades como prestadores de serviços sobrenaturais para resolver seus dilemas pessoais. As deidades e entidades orientais nada dão. Inspiram um trabalho espiritual de vida inteira para alcançar resoluções para diversos dilemas. Aceitamos os totens orientais no campus, porque estes nada dão, apenas inspiram a luta, duraante a busca, via fatores despertáveis nas interioridades do crédulo. Esta é a proposição da Tribo: não peça nada aos espíritos, não ocupe as divindades com seus problemas e dilemas mundanos. Bem se ocupe das tarefas intransferríveis a outros e desenvolva suas potencialidades, já herdadas do plano sobrenatural e, a partir desse despertar, solucione os eventos da sua existência. Isso é muito mais sublime do que pedir, pedir, pedir, louvar, louvar, louvar.
Tara é uma deusa oriunda do mito de uma princesa, chamada Yeshe Dawa, manifestaação reconhecida como “a senhora dos mil olhos” ou “aquela que enxerga os clamores do mundo”. Creio que estes paarticularíssimos dons coincidem com as propostas da Tribo de Estrelas. Tara tem 108 nomes diferentes e 21 formas de inúmeras cores, sendo que a verde é identificada como uma princesaa do Nepal, segunda esposa do rei Salomão.
Ela é associada às emoções e à água, porque dizem que ela nasceu da lágrima de Bodhisattva Avalokiteshvara e também por ter pedido ao Cosmo para reencarnar sempre como mulher. O homem está associado ao quente, frio e morno. A mulher aos aspectos diversos e complexos das ações e reações. Por isso, ela está ligada às fases lunares e as variações e oscilações da natureza. Colocarmos a Tara no seu lugar definitivo no dia em que, sem planejar, recebemos seis mulheres para trabalhar no Campo de Shambala, onde ela vai ficar, já causa enorme emoção, o que comoveu tanto o Ricco que ele não consegue falar do fato sem chorar de enlevo. 
Segundo as crenças tibetanas, ela é rápida em tudo que se põe em movimento. Portanto, conectar-se a sua energia significa que se tem de estar disposto a trabalhar para aquilo que deseja que aconteça.
Ela é a patrona dos tempos tumultuados, a que clareia os caminhos, a que imprime no silêncio, as forças interiores. É a deusa do autocontrole e é derivação filial de Kuan Yin, portanto, é como se fosse a filha da compaixão. 
No Japão é conhecida como Kuannon e na China é confundida com Kuan Yin, por também estar relacionada com a compaixão. Ela é a protetora dos buscadores espirituais, porque é possuidora do conhecimento supremo.

Seis anos embalada, os rapazes a pegaram e a colocaram no lugar. E quando a desembalamos, além de nos depararmos com uma beleza singular, nas suas costas, na altura da nuca, está lá: a estrela de oito pontas, o símbolo máximo da nossa filosofia. 

Já havia terminado e publicado o texto, quando o técnico da roda d'água, em pleno domingo, depois do almoço, chegou para instalá-la. Coisas da Tribo!
 
(a foto que ilustra este artigo foi extraída da Internet, porque ainda não podemos fotografá-la e divulgá-la.