Portal da Tribo de Estrelas – V – A difícil travessia da Ponte Para o Ser

Com a ida a outras paragens cósmicas de Óregon e Aleaia, os passos futuros da futura Sociedade Espiritualista Tribo de Estrelas ficaram confusos, gerando, senão incertezas, mas dúvidas, quanto às decisões a serem tomadas.
O trabalho imenso e intenso que viria, exigia perseverança e clareza. Eu me sentia incompetente para seguir, pois se tratava de definições e rupturas delicadas com instituições e estruturas tradicionalistas que, no mínimo, causariam desconforto nas pessoas.
A primeira dificuldade era merecer crédito junto aos participantes, porque o que tinha para dizer confrontava tudo que aprendêramos sobre religião, esoterismo, espiritismo, holística, umbanda e candomblé, além de outros conceitos e paradigmas aparentemente imutáveis.
Passava noites sem dormir imaginando abordagens e vivências que inspirassem aqueles que confiavam em mim a abrir suas mentes e a expandir seus ângulos de visão de mundo sem com isso afrontar ou confundir suas convicções de fé. Indagava-me como mudar parâmetros e paradigmas que parecem justos e ideais, sendo tão somente um aprendiz, estudioso e observador dos movimentos sutis do Espiritualismo.
Temia a desconfiança, o descrédito e acima de tudo o confronto, porque quando se faz o que é preciso ser feito, desagradar é a última coisa que se quer e eu sabia que iria mexer em fundamentações muito sérias, que mexia direta ou indiretamente com a interioridade das pessoas e isso é arriscado, sob quaisquer contextos.
Primeiramente teria de informar aos que acreditavam em mim que a Nova Era se iniciara em 1983 e o evento fixava um calendário de eventos regeneradores e transformadores dos diversos modos de crer e perceber a realidade, mas quem eu era ou sou para falar de fatos tão profundamente diferenciados? Somente quem conviveu e convive comigo sabe o quanto isso causou de mal entendidos e de desconfianças e de desconforto.
Os sistemas de crenças são herméticos, guardando em seus ciclos e círculos, padrões prontos para permanecer inalterados. Os crentes são levados a crer naquilo do jeito que é e sem contestar. O tradicionalismo se encarrega de empedrar os padrões e de esculpi-los nas mentes de forma irredutível. Abrir clareiras nas mentes aprisionadas nestes padrões é o mesmo que querer abrir uma pedra, não com broca e furadeira, mas com “parafuso de veludo”, na expressão genial de Manoel de Barros.
A mim me parecia impossível e o que me agoniava é que não podia desistir. Muitos dos meus amigos se afastaram e os que ficaram se embatiam demais e se embateram até recentemente, porque realmente a Filosofia da Tribo de Estrelas desafia e contesta, ainda que também encante. Como chamar os que se foram de volta, se a credibilidade foi quebrada? Eu sei que tinha de mantê-los por perto, mas não sabia como. Impotente e incompetente: apenas prossegui na jornada.
O mais improvável dos ofícios era serena e respeitosamente trazer o Ricco para o meu lado. Logo ele que acredita plenamente e de verdade no que lhe ensinam. Os tópicos são tão tensos e agitadores que neste momento temo até escrevê-los aqui, isso depois de 28 anos da inspiração para serem divulgados. O Ricco só compreendeu por causa da convivência amiúde comigo. Demais pessoas, por falta desta proximidade, demoraram, demoram e demorarão a compreender.
Pelos escritos do ocultismo clássico e por comentários em livros diversos do século dezenove e começo do século vinte, antes do ano 2000, a base de uma Nova Era para o planeta teria de ser estabelecida. 1983 foi este ano-momentum e que passou despercebido por muita gente, menos por quem já desconfiava dos métodos religiosos e espirituais vigentes. Listo as principais novidades e, pela primeira vez, comunico aos que não me compreenderam e que ainda não me compreendem que os compreendo e em seu lugar teria feito exatamente o que fizeram. Notem os desafios para confiar e atravessar a Ponte Para o Ser:
1)      A partir de 1983, as incorporações não eram mais necessárias. Isto significava e significa que teríamos de contrariar kardecistas, umbandistas e candomblecistas. Como fazer isso de forma amorosa e clara? Grande dilema que persiste, porque é preciso liberar os espíritos das funções mundanas, haja vista que a maioria absoluta dos contatstos com espíritos giram em torno de assuntos relacionados com a rotina terrena e não espiritual das pessoas. Consultar espíritos passa a ser uma incoveniência e não uma necessidade.
2)      Não aos milagres. Todos os milagres estão contidos na própria existência individual e caberia, como cabe a toda pessoa se preparar mental, sentimental e emocionalmente para gerar e promover seus próprios milagres. Isso contrariava e contraria os cristãos, de todos os naipes, principalmente os fazedores de milagres que negociam os grandiosos feitos de Jesus para impressionar incautos. Toda crença de que alguém possa miraculosamente resolver nossos problemas é uma crença obtusa, por mais fenomenal e impressionante que pareça. Libertar-se dos milagres é reencontrar-se com a gratidão por tudo que já se tem.
3)      Mudança no conceito de Carma, reencarnação e formas de receptividade nos planos sutis, após a morte física. A anulação paulatina das preces, promessas e penitências para colocar em seu lugar um trabalho constante de reconhecimento do próprio poder intrínseco em cada ser. Isso contraria o Budismo e outras vertentes orientais. Religiões passivas e contemplativas vão inspirar a serenidade diante dos fatos, mas terão de se modificar quanto ao conformismo.
4)      Ninguém cura ninguém, ainda que a imposição das mãos cause alguma cura. O ideal é que a autocura substitua o medianeiro. Isso contraria os holísticos e o modismo das regressões a vidas passadas, dentre outros procedimentos esotéricos, também usados comercialmente e a que muita gente presta credibilidade.
5)      O ajustamento coerente das escrituras e da vida inclusiva que a Nova Era requer. O Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo e até o Kardecismo, por sua tradição conservadora não correspondiam enfaticamente a esta proposta, principalmente por causa da forma como tratam mulheres e homossexuais. Na prática, significa que estes ramos de fé precisam mudar sua visão quanto à inclusão, o que anula a validade de mulheres e homossexuais seguirem coerentemente quaisquer destas religiões ou seus ramais e seitas correlatas. Destaque para o Juaísmo e para o Islamismo que por serem tradicionalmente muito exigentes e rígidos, se desnudam em suas contradições, pois são responsáveis por constantes conflitos no planeta. Quem não é da paz não pode ser de qualquer pretenso Deus. Como tratar isso sem parecer mais realista do que o rei?
6)      A urgência de formar pessoas comuns em pessoas notáveis, como quisera George Ivanovich Gurdjieff, por intermédio de encontros, nos quais a ética presencial se sobrepusesse aos ritos e fenômenos. Complicadíssimo atrair pessoas para este fim, não porque não queiram ou sejam éticas, mas porque dá trabalho. Surpreende-me quando as teorias e cursos prometem feitos que caem no vazio existencial, porque o trabalho de lapidação do ser é contínuo.
7)      Todos estes tópicos no meu coração, na minha cabeça e no meu espírito apontavam para a criação de um ideário que conquistasse mentes e corações. Esta tarefa ainda está ativa e é imprescindível, na mesma proporção da complexidade. Há dias em que penso em desistir, mas é impossível interromper o fluxo de algo inevitável, como a instauração da Fraternidade Ideal, da Cultura de Complementaridade e da Decência Presencial em Movimento. 
De 2001 a 2011 eu tinha de tratar do Portal 11:11 sem mistificar a ocorrência. Foram 11 anos difíceis, de idas e vindas e de contradições, mas quando o trabalho é franco e sincero e despretensioso, perde muito quem desiste e eu e mais alguns não desistimos. 
Deixamos o foco de Itatiba, aos cuidados dos zelosos proprietários e reformamos uma casa em Itapevi para abrigar o que chamamos de Ponte Para o Ser, cuja foto ilustra este artigo. 
O trabalho continuou, a partir de uma vigília de noite inteira que, ao invés de aglutinar mais pessoas, filtrou e diminuiu sobremaneira o interesse, mas não desistimos e ficamos ali nos anos seguintes, enquanto, na simultaneidade, viajávamos e procurávamos o lugar definitivo para o campus da Tribo de Estrelas.
O detalhe é que não tínhamos dinheiro para isso, mas alguma força nos impelia para essa conquista.
Continua amanhã falando dos ideários, das viagens e de outros feitos...