O que é que te preenche interiormente?

 Há 30 anos, escrevo sobre este tema. Desenvolvi uma teoria que também é uma utopia, mas sem uma quem pode viver melhor? Defendo que as interioridades são tocadas por uma interioridade misteriosa e ininterrupta que abastece a todos com potencialidades despertáveis. Pode ser uma conjectura, mas me ajuda a entender do meu modo, o que posso fazer a partir das potencialidades que misteriosamente existem em mim indubitavelmente.
Estas potencialidades recebem apoio da sabedoria, via conhecimentos criteriosos adquiridos, enlevos que nos chegam pela capacidade de amar, de se divertir, de se alegrar com as diversas belezas naturais e ou criadas pelos homens, como a música e outras artes, por exemplo. 
Depois defendo que as interioridades se preenchem mais bem agradavelmente se as tarefas ditas obrigatórias se transformam na arte de bem ocupar-se. 
Ajuda também a afetividade irrestrita, considerando a humanidade uma família só, ainda que esta totalidade ainda apresente terríveis incongruências. Quem sonha não pode se assustar com os pesadelos e quem espera a regeneração da humanidade não pode abrir mão da delicadeza.
Propus para mim que a espiritualidade é inevitável para quem quer ser bem preenchido, principalmente porque acredito que espiritualidade não é algo para depois da morte, mas é a capacidade de transcender assuntos mundanos, pondo-os sob a aura da sacralidade proposital, que vem pela ética e pela honestidade irreversíveis.  
Quando pensei em saúde, concluí que saúde boa é aquela que alinha um padrão de pensar bem, de sentir, dizer, agir e reagir bem. Com essa saúde, propositalmente pode-se investir, a partir de si, numa Cultura de Complementaridade, pela qual se sinta impelido espontaneamente a complementar os demais com o melhor que construiu em si e a partir de si. 
Este conjunto de construções que formam a saga pessoal, pelo menos a minha, como pessoa comum, me faz sentir próspero. Dessa forma, olho para dentro e encontro meus espelhos repletos do que sou, aos 59 anos. 
Interiorizo o bem, celebro tudo que se relacione com o bem e me sinto no caminho da plenitude. Tudo foi, é e continua muito difícil, mas invisto diuturnamente na minha decência presencial em movimento. 
E luto para que alguns destes sinais, cedo ou tarde, sejam vistos como indispensáveis. É temerário dizer isso publicamente, mas sonhadores e aqueles que amam não temem o ridículo, como disse Fernando Pessoa.