A palavra é tão sagrada quanto o silêncio

Sei que para muitos o silêncio é o fundamento da sabedoria. Ouso dizer que não. O silêncio é o fundamento dos mistérios sobrenaturais e serve para que a interioridade humana toque a interioridade cosmológica. Este encontro traz paz, algum entendimento e leveza.
Mas a palavra é desconsiderada muitas vezes, porque pouco se sabe da sua grandeza e magnificência. Os sons são as vibrações mais íntimas dos seres sagrados. A entrega do silêncio aos sons gerou a música, o ritmo, a harmonia. Depois, os sons agradecidos derivaram para o canto.
Muito depois é que o silêncio ousou se casar com a compreensão. Então, surgiu a palavra falada, que é um mecanismo que ocupa os lábios quando estes põem o sorriso para descansar. As palavras existem para nos fazer entender o que outros aprenderam antes de nós ou para que nós e os outros nos encantemos com o desdobramento dadivoso do silêncio na nossa voz e na nossa audição.
Toda vez que não serve para o entendimento é porque interrompe a função divina que possui. As palavras, quando direcionadas para o bem são dardos luminosos que caem na escuridão do coração de alguns homens. A diferença entre a palavra iluminada e o ruído da palavra grotesca se dá quando os lábios se comprimem espremendo o sorriso.
Palavra boa também interrompe o descanso do sorriso, porque o verbo se enfeita com seu labor simultâneo. Palavra dita e sorriso dado são ocorrências inapagáveis. Depois disso, espero que melhore seu modo de garimpar o silêncio, buscando os melhores teores para suas palavras e silencie apenas quando não tiver como gerar sintonias belas com a sua voz e a expressão do seu pensamento.