Por que as pessoas não entendem de Política?

1)      A sociedade deve negar direitos às prostitutas, deve persegui-las, senão, ao menos, negar-lhes atendimento médico, afinal, prostitutas podem perfeitamente arranjar outro trabalho. Este é um comentário que vai dando cor ao que você pensa como Política ideal.
2)      Mulheres não devem ter o direito de abortar, porque aborto é uma violação às leis divinas e Deus não se agrada disso. Este outro comentário, se acumulado ao anterior, desenha ainda melhor o que você pensa como Política ideal. Caso você discorde um deles, o conjunto ideológico já vai se complicando.
3)      Para que os gays querem casar? Ora, Deus fez Adão e Eva e não Adão e Adão ou Eva e Eva. Sou contra, também porque minha religião não aprova, está na bíblia... etc. Pronto, você já complicou um pouco as ideologias. Entretanto, se você concordou com os três itens, decerto você não é libertário e não aceita que pessoas diferentes de você sejam contempladas nos seus direitos individuais que, em tese, o Estado precisa garantir.
4)      Sou contra fornecer medicamentos grátis para aidéticos e também que o Estado dê atendimento aos travestis, transexuais e a outras pessoas da Diversidade Sexual. Aliás, essa gente não precisa ter direitos, porque são diferentes porque querem e deveriam se curar ou procurar Deus.
5)      Esse negócio de Proune, Enem e programas que facilitam a entrada de pobres, na universidade são erros porque isso é pago com os nossos impostos. Assim, como é errado cotas para negros. Eles têm de demonstrar competência como todo mundo.
6)      Bolsas família, escola e presidiário, são programas malucos para sustentar vagabundos. O governo tem de dar condições de trabalho para todos.
7)      Ajuda humanitária para países em condições catastróficas, somente se o país estivesse em condições magníficas, mas não, o país não pode fazer isso.
8)      Quero mais é que aprove a pena de morte para bandidos perigosos, castração para estupradores e aprovação da maioridade já aos 16 anos.
9)      O Estado tem de ser enxuto, deixando a iniciativa privada predominar com menos restrições.
10)   E mais, alguns tópicos, como: reforma fiscal, reforma previdenciária, reforma tributária, política externa, etc.
Bastam verificar estes dez itens para compreender que dificilmente encontrará pessoas que convirjam para o mesmo ponto. Agora imagine isso espalhado pelos 35 partidos. É um angu de caroço. São discordâncias demais e bom senso de menos e nenhuma ideologia clara para o eleitor se posicionar. Por exemplo, uma prima disse que jamais deixará de votar em Bolsonaro, mas acha que os gays precisam ter os seus direitos.
Outro parente disse que se não fosse evangélica até concordaria com os direitos dos gays, mas isso não é mesmo coisa de Deus. Se alguém perguntar quem é favorável ao Estado Laico, 90% responderão que são contra, porque os religiosos defendem os direitos divinos aqui na Terra, impedindo que a raça de víboras se insurja contra Deus.
Perceba que a confusão é gigantesca. Para mim, logo deveria haver apenas três correntes políticas no mundo, a saber:
1)      Uma corrente absolutamente libertária que defenda os indivíduos irrestritamente, quanto a sua liberdade de escolha e inviolabilidade das suas variações espontâneas dos desejos. O Estado laico invulneravelmente permite que isso ocorra sem confusão. Outros itens, como sistema prisional, por exemplo, a questão da punição teria de passar programaticamente por reeducação verdadeira, visando à reintegração do criminoso. Isso estaria mais adequado à fraternidade, solidariedade, compaixão e inclusão. Se se muda o sistema prisional, então tal sistema precisa justificar-se pela eficácia. Todos os outros itens dependem de gestão libertária eficiente. É um escopo ideológico que abrigaria em torno todos aqueles que pensam nos fracos, nos viciados, nos diferentes e nos que se desviam do bem estar da vida, seja via drogas ou outros erros de percurso. Não poderia ser chamado de corrente de Esquerda, porque, parte da chamada Esquerda já confunde muito estes itens, talvez por causa das vicissitudes partidárias, aleijadas quanto a ideologias.
2)      Uma corrente que, concordasse em parte com a corrente um e em parte com a corrente 3.
3)      A corrente 3 é absolutamente contrária à corrente 1 e defende um Estado que não tem meio termo, que é conservador em todas as linhas e considera a linha da corrente 1, absolutamente inaceitável.
O eleitorado precisa definir se quer uma sociedade inclusiva, educativa, regeneradora e preocupada com as condições plurais do ser humano ou se quer uma sociedade que ora penda para a corrente um, ora penda para a corrente 3. Isso é o que ocorre agora. Muita gente faz uma mistureba e acredita que isso funciona. O eleitorado também precisa definir se prefere um Estado que funcione na base do Escreveu não leu, o pau comeu e com restrições individuais, baseadas em religião e conservadorismo. Parece que a questão central é se vamos construir uma nação humanitariamente consciente das diferenças individuais ou se vamos sustentar uma nação que funciona com formatos que desconsiderem a diversidade e a pluralidade de ocorrências que a humanidade produz.
Como veem está-se longe de começar ao menos a definir os tipos de governo, sendo que ainda há uma agravante seriíssima, os países quase não possuem autonomia para governar, haja vista que a Economia globalizada e volúvel, pode, do dia para a noite, travar investimentos e crescimento. Por isso, o que está acontecendo no Brasil de agora não serve para nada, não é nada, a não ser um burburinho para amputar as trôpegas pernas da Democracia.