Por exemplo, não há exemplos!

Neste fim de semana a Sociedade Espiritualista Tribo de Estrelas aprovou seu Estatuto e realizou a Assembleia Geral, passos básicos e fundamentais para a institucionalização. Nos seus ideários mensais, já é recorrente o pensamento de que não há soluções fraternais verticalizadas, aquelas que dependem dos poderes constituídos. 

Pressupõe a Filosofia da Tribo que o gene anômalo da civilização, transmitido pelas diferentes culturas, religiões e sistemas políticos contaminou o indivíduo, principalmente com relação à maneira como lida com o dinheiro. É o dinheiro, o poder e o status pessoal, grupal ou partidário, que elevam e perpetuam a corrupção. 

Ou os indivíduos se transformam da base para o topo da pirâmide social ou nenhuma revolução dará certo, porque o proplema não advém dos sistemas estabelecidos, mas do ciclo vicioso do ser humano, em contado com o dinheiro, em primeiro plano, com o poder, em segunda lâmina e com o status que reformula suas ambições, por conta da vaidade pessoal. Ou se muda o ser humano ou o gene anômalo da civilização permanecerá vivo, se retransmitindo e sofrendo mutações cada vez mais absurdas e impressionantes, como é o caso do Brasil atual. 

 Pelo que aprendi na Tribo de Estrelas, sinto muito que o Brasil tenha entrado nessa polarização, na pior das versões maniqueístas da modernidade. Somos um povo de paz e por causa de cores partidárias, estamos nos tornando agressivos gratuitamente. 

Verdade seja dita: não temos bons políticos nem bons partidos. Somos um país democrático exatamente porque amamos e praticamos a liberdade de pensar e de discordar elegantemente. Em termos políticos, somos pobres, mal servidos, pueris. 

Os partidos não têm programas, tem colchas de retalhos mal remendados. Por isso, suas ações são desconhecidas e a ignorância sobre as ações benévolas visitam o caldeirão de maldades das generalizações. Temos políticos de péssimas intenções e práticas. 

Os que não são bandidos, no mínimo compactuam com criminosos. Essa é a verdade. Nessa questão toda, há muita opinião e pouca definição, além da própria opinião. Estamos numa enrascada democrática e não temos solução. 

Golpe, não golpe, justiça, injustiça, mídia golpista, não golpista, os poderes constituídos estão corroídos, os representantes estão contaminados, a opinião pública equivocada, os militantes enraivecidos ou revoltados, os manifestantes numa onda sem precedentes de ódio, a superficialidade do diálogo tremendamente nítida, os horizontes políticos chamuscados pela desconfiança e nós, entre nós, tentando juntar os cacos de um mosaico aterrador.

Nós nos arranhando nas redes sociais, nas ruas, nos consultórios médicos, nas praças. O quadro é angustiante para todos os lados. Com Dilma, sem Dilma, com Lula, sem Lula, com quem quer que seja, nada vai mudar essa peleja. E estamos discutindo sobre o que não é o objeto das nossas esperanças e definições honrosas e democráticas. 

O objeto ideal do nosso presente-futuro ou de nossa atemporalidade como nação, como espécie, é a decência presencial em movimento, elevada à individualidade de cada cidadão e compartilhada na sociedade. 

E para isso não dependemos de retiros espirituais, de cultos evangélicos, de missas campais, de demandas nos terreiros, de conjunções intelectuais, de conglomerados acadêmicos , de sindicatos e outras agremiações, de garotões com lideranças pífias, mas que levam milhões de pessoas às ruas, sem sequer prestar contas à sociedade sobre de onde vem a grana para as despesas. 

Não, para isso não dependemos de juristas magoados, referendando pedidos de impeachment ou de ordens quaisquer apoiando ou não, não dependemos de juízes heróis ou de policiais fanfarrões ou de políticos oposicionistas oportunistas ou políticos situacionistas testas de ferro. 

Dependemos exclusivamente de lançarmos um olhar para nós mesmos, em profundidade e indagarmos: quão decente sou para, se necessário, substituir os canalhas que estão aí mandando ou querendo mandar no país? Quão decente sou diante de mim, das pessoas que me cercam e daquelas que encontro? Se a decência individual não houver em nós e não formos irredutíveis quanto à fidelidade a essa condição, então todos os nossos comentários, todas as nossas discussões e principalmente todas as nossas opiniões, ações e reações são inócuos, pífios, improfícuos e somos meros protagonistas de indisposições e fracassos pessoais e coletivos. Precisamos de exemplaridade e devemos começar por nós este espelhamento.

Parece que precisamos de um novo iluminismo, como digo na Tribo de Estrelas, precisamos de um novo ideário, por meio do qual sejamos legítimos representantes da fraternidade, da complementaridade e da decência presencial em movimento, sobretudo, não permitindo que as barganhas e o dinheiro deturpem nossas convicções. 

Se chegamos ao ponto dos líderes das manifestações, que querem acabar com a corrupção, não declararem oficialmente sua contabilidade, significa que o ciclo vicioso da Política está apenas se renovando, disfarçado de revolução e trocando apenas de nomes. 

É hora da gente se acalmar e repensar um país decente, cuja base seja a nossa própria decência apresentada amiúde nas nossas rotinas. A partir de hoje, as colunas deste site tratarão exclusivamente de fraternidade, cultura de complementaridade e de decência presencial em movimento. Fora disso é desperdício de energia.

*Sociedade Espiritualista Tribo de Estrelas - www.tribodeestrelas.com.br situada em Tapiraí -SP.