O massacre político preocupante

01) Que os movimentos sociais e o PT querem uma manifestação robusta para fazer frente ao que houve ontem. Bobagem. O que houve ontem é irreproduzível. Ficou claro que todos estão contra Dilma, Lula e PT, até mesmo políticos da base aliada. O que está havendo é um massacre político, conforme enumero agora, para que meus amigos entendam o que gente experiente está chamando de golpe.

2) Todos os partidos derrotados e também os que já estão guinando para um possível novo governo, que é o caso do PMDB colocaram suas máquinas para funcionar a favor das manifestações. A oposição teve 49 milhões de votos. Levar muita gente às ruas, nas condições atuais não é difícil. Mas, mesmo assim, existem fatos robustos de manipulação da opinião pública.

3) A operação que levou Lula a depor coercitivamente já ensaiava o espetáculo midiático e propagandístico do que ocorreria no dia de ontem.

4) Lula, PT e Dilma, pela ordem, caíram no modelo das respostas. Sabe-se que desde o segundo mandato de Lula, a ideia é colocar a população em alerta sobre os malfeitos do PT e aliados. A estratégia montada por Joaquim Barbosa era clara: prioridade para culpar e prender os operadores petistas. Esqueceram que o mensalão tem DNA tucano e partiram para cima do esquema do meio em diante. De lá para cá, todos os podres do PT e aliados foram revolvidos e havia podridões sem fim e ainda os há a descobrir. Mas, a justiça errou, quando focalizou apenas o partido e seu bando, deixando para trás, outros casos de corrupção dos demais agentes.

5) O ódio ao PT foi crescendo e os outros bandidos foram ficando para trás. Os procedimentos de campanha são sórdidos para todos, mas somente são destacados os do PT. Lula se mostrou um cara, no mínimo tolo, e no máximo, culpado por tudo de ruim que o partido fez, e por isso amarga hoje investigações aterradoras a seu respeito, tanto que, embora perseguido e tendo atos policiais e jurídicos arbitrários contra sua pessoa, sua defesa é simplesmente impossível de ser feita por pessoas de bem. Ele tem muito a explicar.

6) Outros agentes da oposição também, mas eles não receberam o mesmo tratamento por parte da PF e da Justiça. Este é o nó górdio que faz de ontem, não um dia positivamente histórico, mas como o dia que vai passar para a História como aquele em que o povo canalizou por completo a estratégia de massacrar um partido que, embora tenha culpas nojosas, nunca esteve sozinho na bandidagem, mas foi assim que a justiça o pôs e foi assim que a população aceitou, com muito orgulho, de peito estufado e com gritos patrióticos. Daqueles momentos complexos em que o absurdo ganha nexo.

7) Lula e o PT são os alvos.De novo a justiça erra contra eles, a PF erra contra eles, o Ministério Público paulista erra contra eles, mas seus feitos não permitem que a população sequer ache razoável ter dó deles. O Ódio, a decepção com eles, a vergonha, faz o público, embalado pela maldade da mídia, arraigar ainda mais a raiva, de forma que tudo que se faz contra eles está certo, na visão da classe média, principalmente, que não alcança outra leitura senão a da vingança, em forma de justiça e pronto.

8) A estratégia de Barbosa, talvez não proposital, mas equivocada, desde o mensalão deu certo. Então, fez-se um corte na bandidagem geral. Safaram-se todos os demais bandidos políticos, porque os do PT, além de darem ibope, dá notoriedade aos carrascos, porque bater no governo, derrubar um governo, é o sonho de consumo de qualquer agente investigador, opositor ou julgador.

9) As outras figuras nefastas foram se apagando da visualização, os petistas e alguns aliados se acenderam nas revistas e nas tevês, que tem motivos inconfessáveis para isso, e a opinião pública entrou na onda e dela não saiu mais. O PT é corrupto, dizem e prendem mais uns. Lula é corrupto e vasculham sua vida e acham razões confirmatórias a provar, mas encontram algo. Reforça-se de novo e o espetáculo não pode parar.

10) Até agora não se quer dizer que é para deixar as investigações para lá, porque os outros também roubam. Não é simplório assim. Pessoas sérias se perguntam por que o abandono das investigações sobre os outros e por que a obsessão exagerada sobre o PT, custando, inclusive a credibilidade investigativa e punitiva? Aqui os analistas amadores afirmam que as provas chegam e os petistas continuam defendendo Lula e PT. Petistas e lulistas têm o direito de defendê-los, até por equívoco, mas não é isso. Pessoas isentas, que amam a Democracia sabem que a PF, o STF, o Ministério Público e agora Moro extrapolam na preferência sistêmica em investigar e julgar petistas e alguns aliados mais frágeis, minimizando delações e indícios de crimes dos demais agentes.

11) Não é para parar de investigar, prender e condenar petistas e aliados, mas ampliar o leque. Quando não o fazem fomentam o ódio contra um único grupo de pessoas, contra um único partido e cometem injustiças e levam a população a erro, porque ontem foi um massacre contra um único segmento político e todos sabem que tem muito mais gente envolvida nisso tudo.

12)O que era para ser o grande momento da justiça, se transformou em perseguição branca a uma sigla apenas e a seus líderes. Que se devem - têm de pagar, mas a forma de buscar respaldo público é espúria, porque conta com a colaboração de inimigos declarados da sigla e de seus líderes, como também dos seus eternos críticos. Os movimentos midiáticos para o massacre de ontem estão claríssimos.

13) Durante a semana Dória patrocinou uma palestra de Moro a empresários. Qual o juiz isento aceitaria isso? No dia seguinte, o presidente da FIESP convocou as empresas para incentivar empregados a irem às ruas. No dia 09/03, Alckmin proibiu que os movimentos sociais pró-Dilma se manifestassem. Neste mesmo dia 09/03, figurões do PSDB e do PMDB jantaram juntos e selaram acordos para levarem o impeachment adiante, com ou sem julgamento do TSE. Um dia depois, o MP paulista pediu a prisão de Lula. Por último, mostraram o cofre dos bens de Lula, com imagens de objetos, digamos assim, "surrupiados" do Planalto. A ideia era provocar irritação, indignação, ira, cólera, euforia raivosa e fazer com que, mesmo quem não quisesse ir às ruas, se decidissem por ir, para fortalecer a ideia de que estão fazendo a coisa certa e justa. Não é nem uma coisa nem outra.

14) No meio de tudo isso, estonteada, nocauteada e agonizante está Dilma, a que está pagando o pato, maior do que aquele que o hipócrita e aproveitador Scaff fez aparecer na avenida. Ela ganhou a eleição legalmente, ainda não foi julgada pelo TSE por erros semelhantes aos de todos os seus antecessores e adversários e, pelas circunstâncias construídas a sua volta, vai perder o direito de governar ou de exercer, mesmo incompetentemente, mas por direito, seu mandato. Aqui é que os manifestantes e a população não compreendem e creem que estão fazendo o certo, mas estão redondamente enganados: não se exerce democracia atropelando direitos. Quero muito que o Brasil funcione melhor, mas não posso aprovar que o governo caia sem os motivos violadores que legalizem a queda.

15) Chega-se ao cúmulo de Dilma vir a ser julgada por pessoas já rés e ela, ainda tendo suas prováveis culpas investigadas. Misturar os crimes do PT, Lula e aliados, com o mandato legítimo que ela detém é somente um dos males que a maldade política está causando ao Estado de Direito e à supremacia da proteção irrevogável dos direitos adquiridos. Manifestantes afrontam a democracia e cometem crime coletivo de responsabilidade, quando se aproveitam das estruturas de partidos não inocentes, apenas não investigados, para antecipar a queda de quem ainda não deu motivos criminais comprovados para isso.

 

16) Por fim, o caso paradoxal de Moro. O juiz está fazendo um trabalho árduo, mas há falhas que a população não vê e quem vê deixa para lá, porque, afinal de contas, derrubar Dilma, prender Lula e acabar com o PT é o alvo, custe o que custar. Se as delações falam de outros nomes e estas pessoas, quando não são do PT e dos seus partidos aliados mais fracos, não são imediatamente investigados, é porque seu trabalho serve à pressa de derrubar o governo. Por isso não fui às ruas, por isso, não acho que estejamos em momento para festejar. Ao contrário, vivemos um momento de causar, no mínimo preocupação e indignação, por motivos que não posso citar aqui, porque prezo minha liberdade.