O feio, o podre, o sujo e o mal lavado.

Tudo que você precisa saber sobre um golpe jamais saberá, principalmente quando os interesses pessoais e grupais se sobrepõem aos princípios básicos da Democracia. A honradez é escassa e nisso habita a ineficácia real de todas as revoluções, sejam pacíficas, sangrentas ou sórdidas, aquelas que se amesquinham pela estatura anã dos atores envolvidos.
É feio o que economistas, banqueiros, grandes empresários e investidores fizeram antes das eleições de 2014 e continuam fazendo com o intuito de retirar o PT e sua turma do poder.
É feio igualmente o que a mídia sempre fez e continua fazendo, tornando-se caixa de ressonância de um golpe em curso.
É feio o que a Oposição fez e continua fazendo, antes e depois do pleito, tentando ganhar no grito a cadeira de Dilma.
É feio o que principalmente o PMDB sempre fez, continua e continuará fazendo em todos os governos: barganhar, barganhar e barganhar.
É feio o que o vice-presidente fez ontem, porque se no primeiro mandato de Dilma ele já não inspirava confiança, porque aceitou estar no segundo mandato.
É feio comparar a governabilidade no Brasil com o que houve na Argentina, na Venezuela e na Bolívia, tentando colar o selo de bolivarianismo no governo brasileiro que, embora inábil e em alguns setores irresponsável, apresenta enormes diferenças.
É feio; senhores Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi e outros jornalistas "tarja cifrada", não divulgar as diferenças, somente porque torcem pela saída do PT do poder. Eu também torço e quero, mas de forma limpa, democrática e justa.
É feio, por exemplo, não revelar que os governos bolivarianos controlam o Congresso, o Judiciário e massacram a Oposição, inclusive, mandando prender os principais líderes. E que isso não ocorre no Brasil.
É feio não esclarecer que nos países, ditos bolivarianos, a imprensa é confrontada o tempo todo, quando não amordaçada, em ilegítimo crime contra a Liberdade de expressão.
É feio ocultar do público que no Brasil ocorre exatamente o contrário:
O Congresso faz gato e sapato do Brasil, das leis e põe o executivo e o judiciário em posição de reféns ou de jogadores de xadrez.
O judiciário autoriza prisões exatamente de figurões do governo e quase que blinda outros criminosos da oposição, com igual ficha corrida ou até pior. Em países, ditos bolivarionistas, isso é impossível.
As mídias destroçam o governo repercutindo o que os tutores do golpe ensaiam nos bastidores e a presidente nada faz para impedir, a não ser com seu discurso enfadonho e sonolento repetir que defende as instituições. Em países bolivarionistas, alguns jornais, revistas e tevês podem ser até fechados.
É feio participar de um golpe em curso, desde o mensalão, quando o DEM e o PSDB foram poupados, para atingir e derrubar exclusivamente o PT e aliados, pegos em falcatruas semelhantes às dos adversários e fazer isso como quem está defendendo a Democracia.
É feio verificar que no Judiciário, alguns ministros e magistrados escancaradamente tomam posições políticas e julgam ou soltam pareceres altamente duvidosos contra o governo.
É feio, por exemplo, saber que o dinheiro sujo da Petrobrás alimentou quase todas as campanhas de 2014.
É feio o TSE acatar ação do PSDB para cassar o mandato de Dilma por ter feito campanha com este dinheiro vindo principalmente das empreiteiras.
É feio para o jornalismo em geral não confrontar a arrecadação de cada partido e ver que a diferenças em milhões foi mínima entre o recebido por Dilma e pelos opositores.
É feio o que se fez junto à opinião pública para fragilizar Dilma que até merece estar fragilizada, mas não da forma sórdida e temerária para a Democracia como se está fazendo.
É feio, irremediavelmente feio, perceber que há de verdade um movimento tosco para retirar ilegalmente (com cara de legalidade) a senhora Dilma do poder, mesmo não havendo crime pessoal cometido por ela.
É feio manter em seus respectivos cargos, políticos criminosos pelo simples fatos de serem peças chaves na continuidade do golpe.
É feio e terrível fazer essa leitura, sabendo que Dilma vai cair, principalmente porque sua queda vai encobrir o pior que a Lava Jato ainda não divulgou. Se os figurões do PT estão presos, pertencendo ao governo, imagine o que não há em relação a políticos e empresários oposicionistas.
É feio e inadmissível tudo que ocorre no Brasil, com a conivência internacional e com a anuência daqueles que deveriam exatamente ajudar a cuidar do país.
No Brasil de hoje transcorrem fatos absurdos, envolvendo o impeachment de Dilma, a saber:
a)      O partido da presidente e partidos aliados do seu governo retiraram dos quadros corruptivos do passado, as técnicas da bandidagem contumaz da Política brasileira. Tudo que PT e circundantes fizeram já se fazia e quem é do ramo político sabe disso. Oposição, mídia e população, pela primeira vez, contatam às claras, uma lista enorme de crimes cometidos nos últimos anos, mais notadamente dentro da Petrobrás. Pela primeira vez culpados vão para a cadeia, gente de alto calibre. Isso já é suficiente para que Dilma permaneça no poder. Qualquer outro mandatário, com muita força, teria encoberto os fatos, como sempre ocorrera no país. Se Dilma cair, será exatamente para que o futuro governo abafe outros casos, porque foi assim no governo FHC e até no governo Lula.
b)      A vontade de retirar a mulher do Planalto chega a parecer um desejo oculto da Oposição e dos agentes envolvidos para não permitir que se saiba mais do muito que ainda tem por vir à tona. Note que contra a presidente não pesa qualquer suspeita ou acusação, em níveis pessoais. Ao derrubá-la, as instituições estariam invertendo todas as lógicas cabíveis aos ritos legais para a tomada do poder com legitimidade.
c)       Uma rápida olhada no quadro denota que no Judiciário, via TSE, um dos juízes responsáveis pelo processo contra Dilma tem sérias acusações contra si, no mundo paralelo das suas funções. Deveria estar impedido de participar de qualquer investigação. Na linha direta de sucessão, o vice-presidente, é de um partido contumaz em ter figuras proeminentes envolvidas em corrupção. Deveria está ao lado da presidente, mas está querendo sua cadeira. O problema é que os outros dois nomes imediatos na sucessão, também são do partido do vice-presidente e sobre ambos recaem investigações e acusações seriíssimas. Neste quadro, a inversão é aterradora. No linguajar popular, o podre e o sujo estão cuidando de punir o mal lavado. Por incrível que pareça, Dilma é a figura mais limpa desta trama. Se sua popularidade está baixa, é porque outros agentes trabalharam para enfraquecê-la, desde seu partido, mais aliados, até alguns movimentos populares, não espontâneos e a oposição frágil, ressentida e mal intencionada com o país.
A semana começa com a evidência de muitas vertentes do ataque mais nojoso que a democracia já sofreu:
1)      O Poder Legislativo sendo alavancado pela estratégia desleal da oposição, da mídia, de parte dos grandes empresários e investidores, de diversas partes do mundo e das manobras covardes e insanas do Presidente da Câmara para derrubar Dilma. Esta é uma queda desejável, mas ilegal. Dilma deveria cair, mas não há motivos democraticamente válidos para isto. Homens sérios teriam de realinhar os valores da Democracia e defender o país deste ataque, que está dando enorme prejuízo para a maioria e que começou mesmo antes do resultado das eleições.
2)      Pedaladas fiscais e medidas apontadas pela peça produzida pelos autores do pedido do impeachment são e foram práticas recorrentes em todos os governos e algumas práticas se estendem para os executivos estaduais. Se aprovado e Dilma for impedida de governar, oposições estaduais ganham razões para pedir impedimentos dos adversários por motivos similares.
3)      Neste caso específico, para caracterizar o crime de Dilma, que o oráculo pessoalmente gostaria que fosse achado, tem de se provar que Dilma beneficiou-se das práticas. Por exemplo: se algum dinheiro foi parar em alguma conta pessoal da Presidente.
4)      Caso negativo, é inválido o argumento do PSDB, do PPS, do DEM e do Solidariedade-força-para-o-cunha, porque manobras de poder para o Executivo fechar contas sempre ocorreram e nunca foram motivo de afastamento do cargo, embora tenham sido motivo de contestação. Se o dinheiro cobriu despesas lícitas do governo, qual o crime de Dilma, se antes ninguém jamais sofreu sequer admoestação verbal por isso?
5)      O que a peça do impeachment representa é a parte do plano de parte da sociedade para derrubar Dilma, que começou mesmo antes da eleição de 2014. Basta ver o movimento da Bolsa e das ações da Petrobrás, um pouco antes do resultado do segundo turno e é possível perceber que há uma tendência entre Oposição, Empresariado e Mídia para, em primeiro lugar, vencer as eleições a qualquer custo e depois, para invalidar o pleito e ou impedir a posse de Dilma. É óbvio que algo de muito ruim para a Democracia teve início ali. Depois, o plano não mudou e o Vale tudo chegou até aqui, um tanto mais nojoso com o surgimento de Eduardo Cunha no roteiro e seu bando de agentes da sujidade política do Brasil que tem muita Força.
6)      O TSE, de forma imprópria e tendenciosa, reabre ou impõe um processo sobre abuso de poder econômico na campanha, impetrado pelo PSDB, algo que ultrapassa outra linha lógica. Se o dinheiro da Petrobrás chegou à campanha de Dilma, é bom verificar que a diferença nas doações, por exemplo, para o PT e para Aécio, advindos das empreiteiras envolvidas, são similares, com diferenças não muito significativas.
7)      Ainda que fossem mínimas, como diferenciar dinheiro limpo de dinheiro sujo, dado a ambas as campanhas por mesmos doadores? O mais irônico é que Aécio e Aloysio Nunes esperam impugnar a chapa petista/peemedebista para serem empossados, porque asseguram que sua campanha não recebeu dinheiro sujo.
8)      O TSE precisa erradicar a duplicidade de suas ações e ser mais criterioso, exatamente no momento da apresentação das candidaturas e depois apresentar mais rigor nas análises das doações. Dá impressão que há também uma força estranha para impor a Dilma punições antes nunca vistas. A pergunta é por quê? A população foi levada de roldão e a popularidade da presidente despencou e se sabe que isso ocorreu por conta das investigações da Lava Jato e esta é a mais justa vertente disso tudo, porque está investigando, condenando e prendendo culpados. Seria mais justo, quanto mais se vissem que corruptos de todo o leque fossem alvos imediatos. A injustiça da Lava jato também parece confluir para o plano de derrubada de Dilma, porque parece que figuras ligadas ao governo são as preferidas dos investigadores e juízes. Em que, por exemplo, o senador Delcídio é mais culpado do que Eduardo Cunha, Renan, Jader e Collor? Não é estranho?
9)      Já no Mensalão, os petistas e aliados foram presos rapidamente, execrados e estão sendo punidos. O mensalão do DEM e do PSDB ficou para trás. Ninguém foi sequer indiciado. Estranhamente, a Operação Lava Jato apressou a prisão de outros aliados do governo, incluindo até senador no exercício do mandato e está deixando para depois, o desfecho contra outros parlamentares não tão alinhados ou contrários ao governo.
10)   Por mais que se queira Dilma e o PT fora, é impossível aceitar que isso ocorra, sob o critério de dois pesos e duas medidas. Parece fazer parte do plano de impeachment, desejado pela Oposição e setores da sociedade, o esfacelamento provocado do governo, ainda que isso custe muito ao país. E está custando, talvez também porque com a crise tem muita gente que enriquece rápido. Portanto, é interessante para muita gente que a crise se aprofunde. É um negócio. Sempre que o governo se afunda em dívidas, alguém ganha e muito com este endividamento. Por isso, este oráculo abomina as práticas do petismo e até discorda do estilo Dilma de governar, mas não se submete aos pendores nojosos do impeachment, porque há muita sujeira por trás de tudo que se vê, ouve, lê e se difunde.
11)   Finalmente, este oráculo lembra que o Brasil é ingovernável de forma absolutamente honesta e perfeita. Também nenhum partido ou líder ou grupo tem soluções sequer medianas para o Brasil. Quem quer tomar o poder não tem razões técnicas lógicas para apressar a tomada do poder. Logo, é imoral, desleal, ilegal e assustador que a Democracia esteja sendo vítima simplesmente porque até mesmo as pessoas mais sérias do país estejam atropelando a lógica inatacável da Democracia.
Começa uma semana que pode ser a mais tenebrosa desde o Processo de Redemocratização do País e isso com o apoio irrestrito de muita gente boa, em conjunto com o que há de pior no Brasil.
É injustificável, sob todos os aspectos que pessoas investigadas, sofrendo processos cabais, por crimes bem adiantados, quanto aos esclarecimentos, usando descaradamente o poder para obstruir procedimentos contrários a si e favoráveis ao país, tornem-se pilares de um processo de impeachment contra alguém que, embora inábil, apresenta ficha limpa, até provem o contrário.
Cabe ao STF uma incursão urgente em todos os processos em andamento para o impeachment, para alinhar elementos justos, sejam para prosseguir ou para barrar a bandalheira em que se tornou a Política do Brasil. O que se espera é que alguns magistrados da Corte Máxima desçam do palanque da Oposição ou do Governo para simplesmente fazer com que a Ordem jurídica reorganize os fatos.
Dilma vai cair e iremos demorar anos para restabelecer a confiança na funcionalidade democrática dos poderes constituídos, talvez, por mais paradoxal que pareça, o maior legado dos últimos governos do PT, porque neles é que os mecanismos encontraram exemplos práticos para ganhar experiência. 
No aguardo da queda de Dilma, este oráculo não tem mais o que dizer para defender a Democracia. É sujo, triste e feio o que acontece no Brasil.