Mandela: o homem que incluiu o negro no arco-íris

 

 

"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."

Mandela

 

Em poucas linhas, a vida de Mandela preenche o planeta de inspirações exemplares. Não são importantes os títulos com que lhe agraciaram: o mínimo que podiam, depois de tê-lo feito pagar pelo crime de querer mudar a face obscura do seu país, dominado pela petulância branco-europeia de todos os tempos, os arrogantes que sempre agiram com a importância auto adotada de umbigo do universo.

 

Importam pequenos exemplos, principalmente para quem nasceu em lugares quase apagados do mapa como este oráculo.  Rolihlahla Dalibhunga Mandela, mais tarde renomeado Nelson aprendeu as primeiras lições pela oralidade, método que pauta a diplomação nas próprias experiências de vida, transmitidas pelos ascendentes. O quadro em movimento da tribo, com seus hábitos e tradições ritualísticas, é que baseou o aprendizado de sua primeira infância.

O oráculo conhece bem o que é antes dos dez anos lidar com parte dos afazeres adultos e também o que significa, na boca das noites, receber dos pais, avós, tios e madrinhas e padrinhos, as cenas das histórias de assombração, encantamento e ética disfarçada de moralismo. Mandela inciou sua vida ouvindo os relatos dos e sobre os ancestrais, portanto, um menino comum que mais tarde percebeu intuitivamente que precisava alargar os passos para abranger caminhos mais longos, ainda que prigosos e traiçoeiros. Era como ele próprio quisesse e conseguiu registrar sua saga pessoal, transformar-se em lenda viva, uma espécie de mito real.

Novamente é seu exemplo que nos alumia. Ele pertencia a uma família nobre da sua tribo e poderia vir a ser o chefe do lugarejo, mas não quis isso depois demonstrou que tinha razão em fazê-lo. Buscou outros rumos, tornou-se advogado e percebeu que precisava resistir ao domínio dos brancos, não por ira ou revanche, mas por justiça e o fez aceitando espontaneamente a função de farol de uma luta não violenta, o que motivou seu encarceramento longo e injusto.

Esta a primeira diferença política e humanitária de Mandela: preso injustamente por lutar por um motivo nobre e ainda assim não buscou regalias no presídio e foi considerado um pai pelos carcereiros. 

Aqui, os poucos homens públicos que são presos, não o são por motivos nobres e querem regalias, confrontando ser injusta sua prisão, porque políticos mais ladrões que eles nunca foram punidos. Tudo menos nobreza presencial.

 

Óbvio que Mandela não foi perfeito e tinha lá seus erros, mas nada que comprometesse sua ética existencial e seu trabalho honesto pela humanidade, lutando para inverter a tendência colonizadora de levar o ouro e o diamante do solo sul africano, tentando historicamente sabotar a liberdade dos diferentes grupos étnicos da sua pátria. 

 

Não queria saber de dinheiro, mas de um tesouro que, uma vez conseguido, não poderia mais ser subtraído da sua gente: a visualização interna, externa e social dos princípios se não universais, mas urgentes de um ideal de igualdade. 

 

É claro que falta muito, mas o que Mandela pôs na vitrine do poder jamais será invertido. Sua luta de fato valeu demais, o que mostra aos meninos do mundo moderno que, se um filho de analfabetos mudou a História de um país, els que possuem excesso de elementos formativos, podem mudar - se quiserem - os rumos diretivos do planeta. 

 

O oráculo não poderia deixar de acrescentar uma pitada de utopia na esperança de que o modelo de Mandela seja imitado em grande escala.

 

Outro exemplo de Mandela coloca a religião em xeque. Era sobrinho de um líder da igreja metodista. Ele também refletiu sobre o poder dos chefes das tribos. Ele sabia que os líderes das aldeias e os missionários, por interesses, os mais diversos, sobretudo, o financeiro, eram influenciados e manipulados pelos administradores brancos. Muitas vezes Mandela aconselhava cuidado com essa contaminação dos poderes políticos, tradicionalismos e religiões.

 

Os homens de bem sempre sabem, cedo ou trade, que precisam combater essa tríade terrível da civilização, mas com certa renúncia e o máximo de cuidado. Tradição religiosa, Política e Poder Econômico são os pilares mais temerários da humanidade, principalmente, porque suas vítimas são as principais defensoras dos algozes e não existe como mudar essa tendência sem enfrentar resistência nas e das pessoas que poderiam se tornar correligionários na luta pelas mudanças necessárias e que demoram a ocorrer, porque poucos decidem mudar o rumo dos fatos estabelecidos.

 

Mandela rompeu com o poder tribal, embora respeitando seus ancestrais. Ouviu os líderes religiosos, mas sabia que os ritos e as diferenças precisavam sem mantidos, entretanto, a luta de fato teria de erigir a decência das pessoas, o que as religiões, a Política e o poder econômico não conseguem. 

Pessoalmente foi vítima de uma das esposas, testemunha de Jeová, que mentiu descaradamente sobre os reais motivos do divórcio entre eles.  Grandioso exemplo de como pessoas sensiveis precisam agir social e humanamente.

 

Uma das passagens mais significantes da vida de Mandela passa em branco para a grande mídia. Diz respeito ao dia em que ele passou pelo ritual de cisrcuncisão. O mestre da cerimônia foi mais do que iluminado pelos deuses ao dizer que o ritual possuía uma vaziez aterradora, pois que de nada adiantava ser másculo e poderoso pela força do rito, se o jovem e outros negros permanaciam escravos no interior de uma nação que não era justa com todos os homens e mulheres. Foi decerto isso que fez de Mandela o homem que nos deixou órfãos de exemplos contemporâneos.

 

Outro exemplo espetacular é o da sua segunda separação. Mesmo sendo traído e tendo sua intimidade exposta publicamente, ele não se separou por isso, mas porque descobrira que a mulher desviara verbas do time futebol dirigdo por ela. Quem faria isso aqui no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo?

 

Comprovando, porém, o que este oráculo defende: que a Política estraga demais até as pessoas muito boas e bem intencionadas; existem mais do que rumores da oposição de que Mandela, na sua gestão presidencial, não favoreceu ativamenete, mas protegeu indiretamente amigos de conduta suspeita, que se tornaram milionários em pouco tempo. 

 

Nosso protótipo mais parecido com Mandela também saiu do governo com essa pecha e de fato é inegável que os seus amigos presos não enriqueceram ilicitamente (pelo menos em tese), mas alguns que não são citados em mensalões estão bem quietinhos contando o vil metal surrupiado dos diversos esquemas inconfessáveis.

 

Aliás, sobre Lula, a tia Rita deste oráculo, disse algo sábio e definitvo: “Carlinho, meu filho, a coisa mais fácil de qualuer político provar que não roubou, é fazer conta. Ele entra dizendo quanto tem, não é? Então, ele recebe durante o tempo que ganhou um valor conhecido de todos, não é? Então, é só ele pegar o que tinha antes e somar com o que ganhou durante aquele tempo e pronto. Abre as contas, abre a vida e prova que é honesto. Isso deixa os inimigos políticos em polvorosa. Então, Carlinho, mas se nenhum deles faz isso, é porque rouba mesmo”.

Claro que existem outros itens a ser observados, mas a tia Rita, pelo menos no tocante ao Lula, ela acertou na mosca. Eu que ainda gosto de Lula, por achar que ele ainda é um dos melhores homens do Brasil (Paciência, se você não pensa como eu, mas infeliz do país que procura em seus quadros, homens notáveis, e é obrigado a ficar com o menos vulnerável em termos éticos), acho que ele, se não devesse nada, poderia calar a boca da mídia e dos seus adversários.

 

Mandela exemplifica para Lula e outros homens quase bons que é possível ser bacana com aqueles que lhes dedicam credibilidade. Ele podendo se reeleger e sabendo que não conseguiria domesticar as feras políticas no seu entorno, partiu para uma aposentadoria governamental, embora publicamente continuasse se dedicando a lutar pela humanidade, tentando diminuir a estrondosa mortalidade por Aids em seu país. Por aqui, ninguém solta o osso, mesmo sabendo que é o melhor e mais coerente a fazer. 

Mandela ensinou bastante a todos nós e pouca gente o imita por este mundo afora. Imperfeito, é verdade, mas alguém capaz de pontuar com alguma coerência uma idealidade pública que a maioria pretende ver em prática. Apesar disso, a família de Mandela, durante algum tempo e talvez a partir da sua morte, fez e fará o que a mesmice humana sempre faz: lidar com o dinheiro como abutres perante a carniça. É isso mesmo, as questões financeiras é uma carniça apetitosa à ganância de uma humanidade abutre.

 

O planeta obscureceu um pouco mais neste dezembro de 2013. O oráculo ainda internaliza uma das citações de Mandela que serve para muitos dos homens públicos do mundo e também para ele, para todos que querem corrigir os rumos da sua história. Eis o que ele disse antes de deixar-nos apenas com o sobejo heróico do seu espírito: “A morte é inevitável. Quando um homem fez o que considera seu dever para com seu povo e seu país, pode descansar em paz. Acredito ter feito esse esforço, e é por isso, então, que dormirei pela eternidade.