Espiritualismo Consciente e Cidadania Plena - Artigo 4.

 
O Espiritualismo Consciente abrange muitos fatores que impedem a ocorrência da cidadania plena e independente da ideologia de todas as épocas, o indivíduo sempre foi tolhido na quase totalidade dos seus esplendores despertáveis. Em todos os tempos, alguns se aproveitaram da maioria e retiraram proveito psicológico, físico, material e intelectual, de forma perversa, proposital e usurpadora.
As correntes poderosas que fortaleceram seus elos milenarmente nunca se arrebentam. Mudam apenas e tão somente de mãos. Por essa razão, no terceiro milênio, a humanidade precisa reaver suas prioridades como espécie e reagir de modo pacífico e suave, mas firme, quanto a unidade que temos de apresentar como alternativa a todas as formas de poder, sejam políticos, econômicos, religiosos ou sociais. A humana unidade da espécie virá quando de fato optarmos invariavelmente pela fraternidade.
Isso jamais foi tentado, porque o histórico civilizatório foi preenchido por violências, disputas, tomadas de poder, vilipêndios, perseguições, vinganças, crueldades, falsidades, enganações, manipulações, mentiras, desconfianças, traições, guerras e atrocidades incontáveis. Este caldo terrível e nojoso é que formou a sopa cultural que se toma até hoje, em forma de tradições, transmissões orais, escritas e visuais, pela evangelização e outros meios.
Em nenhum momento se estacionou a locomotiva de horrores acumulados para descarregar o lixo histórico e para reiniciar algo, sob os pendores do amor que se pode sentir um pelos outros e vice e versa. Nunca se contou a História do Bem Estar humano, porque a espécie acumula a infamante coletânea de maus tratos vivenciais, nos diversos contextos coletivos. A injustiça recorrente é assustadora, haja vista que se chega ao planeta especificamente para experimentar Bem Estar.
Em todos os tempos a coletividade jamais se uniu em torno de um tópico libertador que fosse. Mesmo o Deus do monoteísmo não conseguiu a proeza de unir a humanidade. Espalhados pelo mundo, os seres digladiam em nome de Deus, contrariando todos os prognósticos divinos. Não há fraternidade nem entre adeptos de um mesmo credo. As pessoas querem pouco mais do que o mínimo e não conseguem porque não se unem em torno de um bem comum.
A confusão é tal que todos vivem sempre buscando algo mais para acumular um mais que nunca se conclui, na esperança que ao concluir serão felizes. Mas, claramente o que todos querem é o bem estar no hoje, no agora, enquanto a vida passa. Mas, em vez de viver bem esse agora enquanto a vida passa, a maioria passa a vida buscando o que não se conclui no agora. Este é o dilema.
Conhecedores disso - os políticos e os lideres religiosos, o patronado e outros agentes manipuladores criam novas ilusões no plano deplorável das ilusões e preparam as mentes e os corações para, por intermédio da educação, da comunicação de massa e de outros artifícios, muitas vezes aparentemente bons e fundamentais para manterem paralisados os elementos que causem Bem Estar Pleno nas pessoas.
Os objetivos vivenciais não mudam, sob a ótica do bem estar coletivo. É sempre a mesma gama de quereres. Ser bem acolhido, ter a família em sossego, conquistar amigos, desenvolver predicados, se tornar notável, notado e valorizado, tudo que um Estado de Direito pode fornecer, mas não o faz, porque sempre alguns homens de algum poder usurpam as oportunidades e contrariam os pilares fraternais. Se este é o dilema, por que as pessoas não se agrupam e lutam para fazer valer seus verdadeiros desejos?
Por causa da percepção errônea sobre a realidade. Tudo que toda pessoa quer em toda parte em que estiver desperta se refere a elementos que forneçam bem estar. Visivelmente, o ser humano é um bicho coletivo, plural, embora distinto. Ele quer estar em grupo. Mesmo em situações calamitosas, onde a privacidade seria benéfica e bem vinda, se alguém é isolado dos demais, sem notícias sobre o que está ocorrendo às outras pessoas, o indivíduo vai se incomodar e vai querer voltar e interagir. Este é o aspecto fraternal e divino pulsando dentro de cada pessoa.
Então, porque os grupos que se formam, logo apresentam discordâncias e diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema? Porque o enfoque não é amoroso. Se o enfoque é amoroso e fraternal, cada pessoa e sua lista de ingredientes para o bem estar no agora, ao confrontar a lista dos demais, veria que querem basicamente o mesmo e assim bastaria focalizar as metas e construi-las, busca-las, cobrá-las a quem de direito.
Em verdade, do ponto de vista social, os pilares básicos são: moradia, alimentação, saúde, educação, segurança, lazer e cultura. Os itens são fixos, em qualquer parte do mundo e o que os movem em favor dos indivíduos é o trabalho. Como veem, pode entrar e sair governo, as metas não mudam. Qual o alvo? A funcionalidade. Se a humanidade parar de discutir quem é melhor, qual o partido que deve estar mandando, qual a ideologia, estes temas que ocupam o saco sem fundo das opiniões, ela desconstrói os discursos dos poderosos que a explora, levando sempre para o futuro, as possibilidades de Bem Estar que se quer e se precisa vivenciar no agora.
O que seria mais sensato, então? O Espiritualismo Consciente indica que a cidadania plena surge quando se vivencia irrestritamente bem estar. Vive-se bem estar quando se está em paz com os demais. Se os demais vivenciam bem estar, o campo de convivências se harmoniza. Se há trabalho para todos, todos conseguem moradia, alimentação, saúde, educação, segurança, lazer e cultura, em qualquer tipo de governo, porque o governo não há sem o povo. Se sempre houve povo e governo e os males se perpetuam é porque o povo deixa os governos fazerem mal, o que teriam de fazer bem.    
Portanto, a luta política sensata não é uma guerra de opiniões e torcidas, mas de percepção real e ideal por aquilo que se quer ver funcionando bem. Os grupos, as organizações de classes e cada pessoa têm de se manifestar e de lutar, não contra, mas em prol das exigências claras e contínuas, junto a todos os governos, nas suas mais amplas esferas, para que haja funcionalidade competente nas áreas fundamentais para o Bem Estar de todos. Não fazem isso porque não são fraternais e porque recaem na tentação de defender pessoas e partidos e não critérios de funcionamento da sociedade.
Para haver cidadania plena, o Espiritualismo Consciente aponta para que se esqueça de quem esteja e seja governo, pois o poder mesmo deve ser exercido de acordo com a vontade do povo. Mas, quando o povo não exerce seu poder com clareza de propósitos e pureza intencional, quanto ao que realmente precisa para obter bem Estar, então o que se tem é um lastro lastimável de opiniões odientas e não de exigências justas.
Continua amanhã...