Espiritualismo Consciente e Cidadania Plena - Artigo 3.

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Com calma, o leitor vai perceber que houve um desvio evidente na maneira de acolher e manter os indivíduos no planeta. Este desvio proporcionou todos os equívocos de todos os tempos. Nunca se percebeu que o Bem Estar é a base de todas as outras experiências e que o considerando como prioridade, as demais relações fluiriam, via cooperação e não pela competitividade que sobreveio a todos os trechos da História.
Tudo que há, na feitura cosmológica, entremeando o aparente caos, se dá como perfeita, conforme o objeto se enquadra nas condições ideais de funcionalidade, emitindo suas resultantes, a partir das suas probabilidades despertadas pelos mecanismos inerentes na sua natureza.
O objeto humano que, ao mesmo tempo, é cosmológico e biológico não pode ser diferente. Portanto, a falha humana que carece de reparos advém dos modos como recebe o corpo e seus potenciais para funcionar no planeta, na sociedade, na família e nos demais quadros em que requer sua participação.
A vinda de alguém ao planeta requer critérios não seguidos amorosamente por quem já está por aqui. Para uma criança vir a nós, o trabalho amoroso tem de começar no encontro entre os pais, em que o encantamento entre os dois precisa sedimentar o desejo de se complementar, de compartilhar a construção afetuosa do acompanhar-se um ao outro para acolher quem mais chegar.
Se o critério amoroso falha por aprendizados inadequados, vindos pela cultura supérflua do desejo fugaz, se de modo libertário, o casal não compreende que formar uma família tem a ver com sacralidade existencial, antes de ser uma perspectiva social, então as crianças são trazidas de qualquer jeito, contando, é claro com o amor dos pais, mas não um amor fundamentado na atenção plena, mas e apenas na máxima exigência inconsciente de que se deve amar a todas as expressões de vida.
Entretanto, o amor pede ampliação prática do círculo que envolve a chegada de mais um ao planeta. A corresponsabilidade do casal, a preparação do Estado para acolher com serviços médicos contundentemente plenos, além dos preparativos de acolhimento cheios de zelo, são requisitos preliminares inquestionáveis. Não havendo isso, a sociedade será a grande responsável por ser uma anfitriã desatenta.
É para o país, ao acolher uma senhora grávida, delimitar todos os passos até o parto. A mulher precisa saber de antemão que a sociedade, na pessoa do médico, está acompanhando e que a casa maior, que é o bairro, a cidade, o Estado, a Nação também estão dando atenção plena àquele ser. Isso só é possível com cidadania plena, onde as pessoas se preocupem mais em cobrar critérios atenciosos e amorosos, na prática, do que com ideologias, partidarismos e opiniões.
O fracasso dos sistemas políticos é constante, porque os indivíduos não focalizam o que deve ser exigido e posto em prática permanente, independentemente dos governos. Tem-se de ir às ruas para exigir, por exemplo, um serviço de saúde irretocável, sustentado pelos impostos recolhidos e não para colocar ou retirar algum político do seu cargo. No caso do acolhimento ideal a quem nasce, uma vez padronizado, satisfaz ao primeiro tópico do Bem Estar desejado, que será a razão maior, pela qual o ser humano está aqui e como pretende passar por aqui.
Mas afinal, o que é que todo ser humano tem como Bem Estar? O sistema civilizatório, por meio da Política, da Religião e até, pasme, da Filosofia e, sobretudo, da Economia, apontou no trajeto histórico percorrido até aqui que o Bem Estar surge, na proporção em que a pessoa adquire coisas, com as quais possa atestar uma pretensa prosperidade.
A Política utiliza tais conquistas para provar que seus projetos são vitoriosos. A religião repete à exaustão que o sucesso pessoal vem pela fé, pela atenção que se reserva aos deuses e ao evangelho, o que, inclusive, deve motivar o adepto a compartilhar com os deuses, com o gesto do dízimo. A Filosofia vai indicar que, graças à percepção antecipada dos seus métodos sobre a realidade funcional humana é que a sociedade encontra meios eficazes de girar. Já, a Economia - de acordo com os meios de produção de bens e acúmulo tecnológico e movimentação da mão de obra, indicará que a distribuição de rendas é que eleva o grau de satisfação das pessoas.
Nada disso é verdadeiro, pelo menos em parte. Em todos os espaços tempos relativos do Cosmo, os objetos cosmológicos ou biológicos se movem para encontrar sua órbita confortável de ação, reação, transitoriedade e permanência. De preferência, de modo inconsciente, consciente, instintivo ou mecânico, quaisquer dos objetos só esplendem quando as condições de conformidade ou Bem Estar se aproximam da exatidão e correspondem à sua natureza existencial e funcional.
O ser humano, em qualquer lugar que esteja, quer o que? A base existencial confortável espera correspondência grandiosa das demais pessoas, dos lugares, dos recortes de realidade. Das antigas tribos, passando pelos ambientes sociais comuns, até os topos sofisticados das sociedades, basicamente, as pessoas querem ser notáveis e acolhidas - reconhecidas e valorizadas, tratadas com fineza emocional, delicadeza sentimental e compreendidas naquilo que pensam.
O problema dos desejos existenciais de Bem Estar surgiu com o desvio de propósito das perspectivas vivenciais. Nascer bem, ter um lar, ainda que humilde, ver os pais, os irmãos, os filhos, os parentes e os amigos com saúde e em paz, sobreviver dignamente, conseguir meios intelectuais e materiais de trabalho e de recompensa pelo trabalho, mais tarde, ter alguém que o acompanhe, ter amigos que o compreendam, dentre outras manifestações simples e fundamentais é que causa o Bem Estar.
Mas, as perspectivas vivenciais, cultuadas pela civilização, separaram as pessoas em grupos distintos, classificando-as pelo que sabem - têm - fazem, vivenciam, acumulam, pelas opiniões que defendem, pela religião, pela variação espontânea dos desejos sexuais, pela condição social e nisso se não extinguiu, ocultou ou subvalorizou a humanidade insubstituível que há em cada um.
Então, depois de diversos fracassos de todos os utensílios civilizatórios, como a Política, as religiões, algumas filosofias e todos os sistemas econômicos, é chegada a hora de formar uma massa crítica que reconsidere o amor como requisito para restabelecer a humanidade de cada pessoa, para que as comunidades e as sociedades possam novamente aprender a acolher uns aos outros indistintamente. A ideia da Tribo de Estrelas, pelo Espiritualismo Consciente, é que se reaprenda a ver em toda e qualquer pessoa um reflexo poderoso da nossa própria imagem e que isso recomponha o respeito genuíno que devemos nutrir uns pelos outros. Que a luta não seja mais partidarista, religiosa, maniqueísta, econômica, geopolítica ou de classes, mas que seja uma luta constante para naturalmente sermos base presencial da valorização de cada outra presença nos lugares aonde formos e por onde passarmos.
Que a humanidade não seja um conjunto fragmentado de pessoas atordoadas e amedrontadas, ante as incompreensões, maus tratos e desigualdades malévolas, mas uma espécie em que cada exemplar seja uma relíquia que todos, indistintamente, queiram manter, conservar e colocar em posição de gozar sem restrições todas as condições possíveis de bem estar.