Dos projetos políticos às manifestaçãos

 

Qualquer que seja a opinião formada sobre qualquer assunto em destaque na mídia mundial, raras exceções, pode-se estar equivocado ou servindo aos mestres astutos das visões parciais a respeito de tudo. Este artigo tenta clarear um pouco o modo de olhar, ouvir, analisar e discernir para depois partilhar.
 
Desde que existem as sociedades são mobilizadas por meio dos poderes constituídos e por interesses privados dos grupos financeiros, que procuram movimentar e movimentam a maioria das ações dos governos.
 
As populações às vezes conseguem encaixar alguns dos seus projetos, quando o anseio popular se torna tão evidente que a voz do povo se unifica e exerce o poder que, em tese, possui. Isso é raro. Termina mesmo prevalecendo os eventos que os governos, os políticos e os grandes empresários nacionais, regionais e setoriais querem.
 
Em todos os lugares do mundo, os políticos falham nos tópicos universalmente indispensáveis: Educação, Saúde, Habitação, Segurança, Economia, Contemplação de direitos plenos, porque gente é igual em todo canto e requer zelos semelhantes.
 
A população paga impostos, desde muito antes de a Democracia existir (estou falando do planeta e não somente do Brasil) e a ineficiência dos poderes constituídos em transformar a arrecadação em bens equitativos é imutável. O dinheiro arrecadado sempre encontra um ralo comum a todas as ideologias: a corrupção.
 
Como as populações visualizam o problema parcialmente (eis o perigo da opinião pública) e raramente se unificam em torno das reivindicações, os governos sempre ganham as batalhas, porque, na maioria das vezes contam com o apoio de pelo menos 30% dos cidadãos.
 
Os grupos organizados antes de se manifestarem elencam os tópicos da luta contra ou a favor de algo, segundo seus interesses imediatos, nunca se importando com a funcionalidade da sociedade. Neste momento, dependendo do que elencarem receberão em suas fileiras os aproveitadores que se beneficiarão do resultado conquistado.
 
Se todas as manifestações visassem o bem estar geral e cobrassem dos governantes soluções plausíveis, os nomes dos governantes e dos partidos políticos seriam irrelevantes, porque não se estaria protestando a favor ou contra a este ou aquele personagem e ou agremiação, mas em relação a algo que dependesse do sistema de governo e não do governo.
 
Aqui surge o equívoco básico das manifestações. Os manifestantes se expressam contra pessoas e partidos e não contra as mazelas do sistema de governo, independentemente de quem esteja exercendo o poder.
 
A agravante máxima é que os infiltrados nas manifestações possuem motivos obscuros, desde a desestabilização de adversários políticos, passando pela violência pura e simples, às investidas contra determinados setores sociais que concorrem diretamente com os seus interesses grupais.
 
Por exemplo, perueiros do Rio e de são Paulo podem alinhar-se às manifestações para depredarem ônibus. Criminosos podem se aproveitar para cometerem vandalismo e outras barbáries.
 
Assim, como no mundo, manifestações recebem infiltrações de gente que não está lutando pela causa dos manifestantes, mas porque aquilo enfraquece outros setores.
 
Outro problema vem das ideologias, se é que podemos dizer que haja alguma, quando entram em cena os partidos políticos.
 
A ideologia predominante é a do capitalismo, avalizada pela Democracia canhestra que em todo o mundo ainda capenga, porque os grupos conservadores insistem em impedir que as minorias conquistem direitos universais lhes garantidos. 
 

Daí que as lutas minoritárias dão aparente ideia de que a Democracia é uma bagunça. Mas não é. Para resolver, bastaria que os conservadores compreendessem a nova realidade do Planeta e considerassem a mobilidade dos acontecimentos. Ser mulher, negro, pobre e índio na Idade Média inequivocamente não pode ter o mesmo valor no Século XXI.

 
Em parte do mundo existem ideologias mistas, como é o caso da China, Cuba, Venezuela e a Coréia do Norte que dependem das regras globalizadas para poder aplicar suas políticas internas. Este é um ponto crucial, porque expões algo que os manifestantes não percebem: os países não são governados exclusivamente por seus projetos internos. Dependem de relações internacionais que envolvem fabulosas quantias em dinheiro, além de investimentos e negociações que deixam a todos a mercê daqueles citados acima, lembra-se: os outros governos e os grandes empresários e agora também os megainvestidores.
 
Acrescentem ainda a visão tradicionalista ortodoxa, advinda de culturas de exceção e das religiões que possuem enorme peso no desequilíbrio social. Tenha em mente que na Rússia, o governo é contra os homossexuais porque a ortodoxia predominante é visceralmente puritana e inadmite que os gays sejam pessoas dignas.
 
Para essa gente ser gay é o mesmo que ser sacana e imoral. Estenda ascendências políticas semelhantes para todo mundo árabe, onde o islamismo se manifesta organizadamente contra políticas liberais e libertadoras.
No restante do mundo os grupos religiosos atrapalham bastante os avanços sociais e os acordos, porque colocam Deus, nas questões do mundo, ocasionando grandes manifestações daqueles que se dizem oprimidos e também daqueles (os opressores) que saem às ruas para protestar contra qualquer avanço conquistado pelos primeiros.
 
É importante verificar que a sociedade se apresenta como um grande conglomerado de pessoas com interesses diferentes, alguns terrivelmente incompreensíveis, como é o caso de uns lutarem contra os direitos alheios ( vide religiosos versus gays), além dos manifestantes específicos que protestam ou lutam por melhorias nos seus setores. O maior dos equívocos é exatamente este.
 
O sistema de governo basicamente tem deveres idênticos que, se cumpridos adequadamente, abrangem toda a sociedade, mas a sociedade se divide e luta em separado por interesses inócuos que não visam o bem estar de todos. Por isso cuidado antes de formar sua opinião a respeito de algum tema.
Fora isso, vamos ter os partidos políticos que atuam como balcões de negócios e acirram ainda mais os problemas gerais e setoriais, desde os orçamentos da União à distribuição das verbas para Estados e Municípios.
O caminho de volta que o dinheiro dos impostos faz é conturbado e dificulta historicamente o atendimento ideal e adequado daqueles serviços apontados acima, perpetuando os males na Educação, na Saúde, na Segurança, na Habitação, dentre outras áreas fundamentais para a sociedade.
 
Dos governos, dos grandes empresários, dos partidos políticos e dos interessados comercialmente do mundo inteiro surge a praga que assola todo o planeta: a corrupção. Esse fenômeno dificulta o bom funcionamento de todo e qualquer projeto político-social, sejam os governos da sua simpatia ou da sua relutância.
 
Então, cuidado, suas críticas contra o governo A ajusta-se perfeitamente ao governo B. Então sua crítica pode se tornar uma grande bobagem, porque você não visualiza as questões macro, mas as questiúnculas de torcedor inepto que pensa que basta mudar o técnico e o time vai jogar direitinho.
No Brasil existem entre 33 e 40 partidos políticos que, em tese, representam o povo, mas a questão não é qual partido, mas como funciona o sistema de governo e quais os poderes de cobrança real que possui o povo. Temos de evoluir muito até aprendermos a organizar uma manifestação grandiosa, na qual todos os manifestantes saibam as razões de estar ali.
 
Nunca se esqueça de que partido vem do Latim e significa desunido. Partidos existem principalmente para exercer o poder político. Logo, não existe partido puro. Todos os partidos mentem, manipulam e são falsos. Os políticos, por extensão dos partidos, são temerários. Mas precisamos de ambos.
A melhor defesa contra os malefícios propositais que eles querem ocasionar e ocasionam (em todos os lugares do mundo) é ter um povo consciente de que partidos e políticos não são times. São negociantes que se favorecem da funcionalidade dos sistemas de governos. Logo, o alvo é a funcionalidade dos governos e não dos partidos e dos políticos que você ama ou odeia.
 
Da próxima vez que for às urnas ou quiser fazer alguma manifestação, pergunte-se primeiramente o que é que você quer para todas as áreas da sociedade e também se indague sobre se como cidadão, no dia a dia, você age e reage visando à boa funcionalidade da sociedade. Qualquer das respostas, que resvale na sua inércia social, então vote por votar e considere que sua manifestação é inócua e sua opinião é inválida.
 
Mas se realmente quiser lutar pelo bem estar geral e sabe exatamente como fazer, então vá à luta, porque sua presença pessoal, política e social é imprescindível. Se de um jeito ou de outro precisar cobrir o rosto, desista, porque não há nada mais interessante em luta pelo bem do que coração, mente e rosto limpos.