Carta aos insensatos

Já não é um ensaio sobre a cegueira, mas a cegueira generalizada como espetáculo.

Caros insensatos, amanheci sendo perguntado sobre qual a diferença entre o grampo e sua divulgação por Moro e as condutas de Snowden, o homem que vazou segredos norte americanos.

Respondo que a diferença é simples.

Snowden não é juiz.

Se fosse e estivesse exatamente querendo fazer justiça, sua isenção e imparcialidade seriam cobradas.

Moro não é o santo que se propaga nem o herói que se quer historiar.

Peça-se para ele explicar o que fez com o Banestado.

Há uma cegueira coletiva, formada principalmente pelos eleitores de Aécio, derrotados nas urnas, que colabora para a construção do herói sem nenhuma imparcialidade.

Os não-petistas que somos, vemos isso com clareza.

Perante essa cegueira, a mídia e os atores oposicionistas e agentes de Direita, sempre de plantão, montaram o cenário do impeachment.

O trabalho de Moro poderia passar para a História como algo magnífico, se sua discrição e sua imparcialidade estivessem em seu favor. Não estão.

O golpe é contra a Democracia. Dilma, Lula e PT têm explicações a dar, mas Moro também, Gilmar Mendes também, Teori também, o STF também. E Temer também.

Estão embaralhando as cartas para confundir a opinião pública. Já fizeram isso para cegar os aecistas e anti-petistas, logo depois das eleições, a ponto do ódio ter sido tão bem destilado que os amarelos não escutam um argumento que seja.

Fecharam suas mentes e corações de tal forma que acredito nunca mais se curarão desse rancor. É claro que estão sendo manipulados nas suas convicções vejistas, globistas e midiáticas. Creio mesmo que uma pessoa que só assista ou leia por estes veículos é antes de tudo, infeliz. Alguém que pensa em bater panelas para dançar o samba do crioulo doido que é seu próprio futuro.

Agora querem convencer o restante da sociedade que tudo está tramitando de forma legal, isenta, imparcial e justa. Não está. E mesmo o Congresso Nacional não tem moral e decência representativa para julgar o processo de impeachment.

A estrutura política do país é corrupta e não foram PT, LULA e DILMA que praticaram isso, assim, sozinhos. Se eles têm culpa e merecem ser punidos, que não sejam covardemente, mais ou menos como a gurizada má da escola que se junta em cinco ou seis para bater em apenas um.

Nenhum Executivo faz nada sozinho e a prova é que 316 nomes estão na ror de indecentes, fora o que ainda vem por aí, mas o foco de Moro obcecadamente recai sobre um único grupo.

O que está acontecendo é um linchamento. Para Dilma, Lula e PT, todos os dias, desde a fatídica vitória nas urnas, tem sido sábado de aleluia. Eles são os Judas. Lula, em traje de presidiário, ainda na condição de investigado. O PT, como um partido de bandidos, como se fosse o único e não estivesse junto, até agora, com outras 23 agremiações, anotadas nos alfarrábios criminais da Odebrecht. E Dilma, sem qualquer crime lhe imputado, sendo levada de roldão pela armação de todos os setores escusos sociais para um impeachment, até agora só plausível e benévolo, nas cabeças tendenciosamente pensantes do país.

Não está em jogo se ela é boa gestora, boa presidenta, e até se ela mentiu, porque, de resto, todos mentem, mas se ela é mesmo criminosa. Se for, ok, provas e impedimento. Enquanto não provarem, vale a constituição.

Pedaladas fiscais não levam dinheiro do país para a conta pessoal da mulher. Nada que se odeie pode ser motivo para combate desleal e nojoso. Uma sociedade séria buscaria outra forma de investigar, punir, condenar.

É lamentável o que está acontecendo no Brasil, porque está nítido o uso de dois pesos e duas medidas, quando não: - inovações de pesos e medidas, selecionados por um juiz que posa de herói de dia e conspira à noite, nos salões lotados, em que palestra, pago pelos interessados no impeachment.

Os bandidos estão em toda a parte, mas estão se contentando em apenas derrubar Dilma, prender Lula e extinguir o PT. Parece briga de facções, onde todos são criminosos, sim, porque o mundo midiático não suportaria uma devassa semelhante a que ocorre no mundo político.

O problema e o crime maior é que todos os criminosos se juntaram para esmagar uma facção apenas. Quem concorda com isso, talvez traga na memória pregressa lembranças de quando participava e concordava das posições da Inquisição.

Essa é a verdade, esse é o retrato democrático do Brasil, sangrando continuamente naqueles que estão apenas do lado do Estado Democrático de Direito, defendendo a Democracia e passando noites insones, por não ter voz nessa balbúrdia tendenciosa e desonrosa em que se tornou o debate político brasileiro.

Os letrados do país teriam de ter corresponsabilidade e colocar os pingos no “ii” perante seus telespectadores e leitores, mas está todo mundo jogando em cinco grupos:

1) Os que espalharam o ódio na maioria das pessoas e sustentam suas posições estratégicas.

2) Os que não conseguiram se desvencilhar do ódio, via discernimento e repercutem a vontade nojosa dos golpistas.

3) Os que insistem em argumentar, legislar, julgar e propagar em favor do ódio e do golpe.

4) Os que se contrapõem ao ódio e ao golpe, mas ficando do lado indefensável, avalizando-o e tentando tapar o sol com a peneira.

5) Os que como eu espiam, analisam e têm a certeza de que está tudo fora do lugar e de forma imoral, ilegal, incompreensível, inadmissível e agora incontrolável.

Há uma luta, não de classes, mas de insensatos contra a Democracia. Já não é um ensaio sobre a cegueira, mas a cegueira como espetáculo.

Sem mais,