A insustentável indecência do ser

Sinto desapontá-los, mas toda essa energia gasta com a Política é um desperdício de argumentos, piadinhas, mentirinhas, tolices em forma de opiniões estapafúrdias, algumas deselegantes, outras repletas de raiva, ódio e enganos. Ninguém está entendendo absolutamente.

Tenho três pontos de partidas para provar que a população brasileira vive um dos seus piores momentos, porque sua gente está completamente envolvida em algo absolutamente desnecessário, porque desprovido de grandeza e de conhecimento de causa.

O primeiro ponto de vista vem de comentários como o do excelente ator Ari Fontoura, ao dizer que golpe não é o impeachment, mas o fato de Dilma ter vencido as eleições prometendo algo e fazendo outra.

É indubitável que todos os vencedores de eleições até agora fazem o mesmo, em maior ou menor grau. Se formos pedir impeachment por mentiras de campanha, nunca mais ninguém vai completar o mandato.

Por este ponto de vista, vive-se em verdade um golpe, mas a culpa é do TSE, porque já deveria ter julgado as contas dos candidatos. Se não o fez é porque há um arranjo proposital para que somente Dilma seja atingida, pois o objetivo final é derrubar o PT e sua gente.

Tucanos, pemedebistas e más companhias ilimitadas trabalharam exatamente para dois desfechos: derrubar a mulher antes do julgamento do TSE para abafar os caixas dois de outras campanhas e para tomarem o governo, a tempo de abafarem as investigações da Lava Jato.

A população comprou a ideia e está dando de bandeja o que os criminosos do outro lado querem, porque o linchamento gostoso é contra os “bandidos do PT”.

O outro ponto de vista é o de Dilma, PT e Lula, ao dizerem que todo mundo fez isso e aquilo antes deles e nunca foram punidos. Bom, existe mesmo o desejo de cobrar deles o que nunca na história desse país foi cobrado de ninguém. Mas, que se dane esse argumento, eles, exatamente eles não poderiam ter feito o que fizeram.

Se eles fizeram, no mínimo, merecem os perrengues que estão passando, a vergonha mundial de um partido que se esfacelou. De feio e nojoso fica também o fato de quem os quer fora, ser tão bandidos quanto, mas não importa; eles não podiam ter feito o que fizeram, porque era o partido da esperança e não da vergonha.

O terceiro ponto de vista é o pior de todos. Política não merece discussão de opostos dentro do povo. Os políticos têm lado, devem se esbofetear, se ferir, se matar, mas o povo, o povo, não. O povo deve ter somente um lado, o da decência.

Então, o senhor Chequer, o japonesinho metido a besta, para serem decentes, teriam de conclamar seus seguidores a ir às ruas contra todos. No momento em que escolhem um dos lados, é porque já se contaminaram. Por isso, quem opina, por este ângulo, apenas desperdiça energia e passa vergonha.

Eu, por exemplo, fico com vergonha de todos que comentam política, incluindo, alguns importantes jornalistas. Os políticos, bem, os políticos são os indecentes de plantão que ganham dinheiro público para achacar o público e zombar do público, nos jornais do horário nobre da televisão.

Mas, o mais grave e irremediável, é que política não merece consideração alguma. Merece apenas cobranças generalizadas, sem exceção. Ainda que depuséssemos todos e elegêssemos outro Congresso Nacional e governos em todos os níveis, tenha a certeza, a corrupção vingaria de novo, como uma erva daninha incontrolável.

E mais ainda: é a Economia que está contaminando o mundo. É o dinheiro que não permite aos seres uma nesga de decência e isso não vai mudar. Uma economia que jamais terá emprego para todos e que a Direita acha bom, que seja assim e quem não aguentar que se exploda.

E a Esquerda elogia um governo que oferece socorro aos menos favorecidos, como bandeira de boa e humanitária administração. Ambos estão seguindo apenas o script da economia. As bolsas não se sabem das quantas é um artifício para a economia continuar mascarando sua maldade funcional.

No balanço geral, os que discutem essa política nojosa que está aí formam apenas os blocos dos bobos que não sabem por que estão se embatendo. Estão somente fazendo barulho, como disse Shakespeare, muito barulho por nada. Não vão acabar com a corrupção nem que derrubem todos os governos e que prendam todos que forem descobertos.

Existe uma insustentável indecência no ser que precisa ser regenerada, transformada e isso só ocorre com grandeza presencial no mundo, com o comando do Espírito do bem em cada um. Isso está longe e talvez seja por isso que o que mais vejo e ouço é nulidade virulenta, sob o nome de consciência e participação política. Com todo respeito, vive-se um tempo em que o posicionamento, a palavra e o ato, revelam nitidamente o atraso que se vivencia em termos de cidadania.

Pobre país, pobre povo, pobre diálogo. E paupérrima luta para nada.