A confusão que a visão estreita amplia

Acredito que está acontecendo uma pequena confusão. Tenho recebido várias provocações no meu inbox do facebook, dos dois lados. Os dois lados acham que falo contra eles e alguns me destratam mesmo. Sou jornalista independente e tenho administro este famigerado site que atinge alguns milhares de leitores mundo afora e não posso opinar, segundo este ou aquele posicionamento político. Meus artigos dão rasantes no panorama inteiro e na verdade, a confusão está no fato de os dois lados estarem equivocados. 
Sete em cada dez pessoas do Brasil queriam tirar Dilma, acabar com o PT e prender Lula. Daí, os panelaços, os xingamentos nos estádios, as postagens malcriadas e deselegantes, etc... etc... Por outro lado, as chamadas forças das sociedade civil, leia-se isso como quiser, desde entidades legítimas, aos grupos que mamam nas tetas da vaca profana Brasil, passando pelos petistas de carteirinha, se irritaram diante dos dois pesos e duas medidas adotados pelo judiciário, pela mídia e por outros agentes políticos e sociais. 
Desenhou-se então, um quadro que somente quem está de fora consegue observar. Os pró-impeachment não querem conversa, fecharam o tempo e quiseram porque quiseram que ocorresse, ainda que à luz dos fatos, Janaína, Bicudo e Reale fossem apenas pedras noventa no jogo dos tucanos e depois de Temer, Cunha e outros. 
Esqueceram-se de que a peça era frágil e realmente se configurava um golpe. Esqueceram que no TSE havia os motivos mais lógicos, claros e legais para derrubar os petistas. Os pró-impeachment ficaram com essa ideia, porque tinham pressa emotiva, não lembraram que vingança é prato que se come frio. Seguiram o apetite tucano para se vingar da derrota nas urnas. 
Por outro lado, os petistas e os grupos e entidades citados acima, se pegaram numa verdade: do jeito que foi conduzido, era, foi e é um golpe, porque, de fato, o que se revelou foi um conluio de gigantes, tão criminosos quanto os acusados, réus ou apenas investigados petistas, para derrubar a mulher, tomar o poder e abafar ou adiar as suas penas, como já haviam feito com o mensalão, o Banestado e outros fatos, cujos crimes prescreveram. 
Some-se a isso, um terceiro grupo que viu na manobra do impeachment uma grave lesão ao processo democrático do Brasil, porque a argumentação de que Dilma mentiu, cometeu estelionato eleitoral, recebeu dinheiro sujo para a campanha, isso ainda não está tipificado como crime na imatura democracia brasileira e também não constava da peça rabugenta e infeliz, senão ressentida de Janaína, Bicudo e Reale. 
Por essa razão, somente os pró-impeachment, como alguns amigos, se dão por satisfeitos e gostariam que todos se aquietassem e parassem de apontar os erros grotescos cometidos contra a democracia, inclusive com as manobras de Mendes, em favor de Aécio. 
É verdade também que muitos dos que falam do golpe, o fazem em causa própria, talvez alguns artistas, mas não quer dizer que estejam errados. Parece que as pessoas lúcidas têm de atentar para algo absolutamente cristalino: houve um golpe e ainda pode haver um impeachment, se os juristas não forem despreparados ou notoriamente precipitados por motivos inconfessáveis. 
Outra balela é dizer que quem votou em Dilma, votou em Temer e por isso ele tem legitimidade. Não tem e teria legitimidade, caso o impeachment tivesse sido de fato feito, a partir de uma peça limpa e ele tivesse assumido depois de uma queda legítima ou pela renúncia ou morte de Dilma. 
É falso também afirmar que o STF legalizou o impeachment. Não, o STF disse como o Congresso deve agir durante um processo de impeachment e para haver um processo de impeachment é preciso que haja crime de fato e que o presidente da Câmara se baseie no crime para acatá-lo. Não foi o que aconteceu. E
E por último, as pedaladas fiscais, em verdade, quando praticadas ainda não tinham sido tipificadas como crime.
Se as pessoas não adotam essa visão, vão ficar em uma das margens e não compreendendo o cenário. A confusão existe, principalmente em quem está distorcendo o recorte de realidade a seu favor e não se muda isso com um texto. 
Fato notório é que sendo apenas investigado e ainda não réu, Lula não tomou posse como ministro e alguns novos ministros de Temer estejam, no mínimo, na mesma condição. 
O Brasil vive um momento constrangedor, em que sua população cometeu o engano ou o auto engano de apoiar o que merece condenação e condenando o que ainda requer criminalização. 
Muda-se isso, voltando a raciocinar como alguém que não tem lado, a não ser o lado do funcionamento legal e leal da democracia. O quadro mais absurdo é conviver com golpistas que querem legitimar o golpe e de vítimas do golpe que querem nos vender a ideia de que seu governo era bom.