Oração da Modernidade

"Oração da modernidade:

seja quem quiser
livre-nos se puder

dos despreparados
para viver

que querem nos preparar
para ser e fazer

o que eles não são
e não conseguem fazer

amém"

Há 5 anos eu escrevia isso. Agora, os tempos são outros e temos de explicar o óbvio. Todo ser que lida com espiritualidade tem o dever de defender pilares humanitários, independentemente dos ciclos políticos e ideológicos. É claro que as religiões nunca se importaram com as pessoas. Elas sempre estiveram ao lado dos poderosos, fossem bons, relativamente bons ou maus. A exceção deste tempos é o Papa Francisco que tem demonstrado claramente o que um líder religioso precisa defender. Os espiritualistas têm de imitá-lo. Tenho recebido diversas advertências sobre como devo me comportar diante do quadro político que se desenhou e eu tenho tentado explicar que existe somente um comportamento, o mesmo que cabe a qualquer buscador espiritual. Vou enumerar, até mesmo para que a minha saúde mental, sentimental, emocional e espiritual não seja afetada. Todos precisam entender que os pilares a seguir não são prerrogativas de nenhuma ideologia, embora pareça e por isso algumas pessoas queiram nos confundir e confundir quem nos escuta e quem nos acompanha. Repito que não há problema algum em falar sozinho, aliás, falar sozinho pode ser benéfico, digno e dignificante, em tempos em que o óbvio é visto como complexo, apesar de toda a simpleza, a saber:

1) "bandido bom é bandido morto". Não. Bandido bom é bandido recuperado e devolvido à sociedade, pela sua grandeza existencial, similar originalmente a de todos os outros seres.

2) "Todo cidadão precisa ter uma arma para se defender". Não. Todo cidadão precisa ter uma segurança pública competente, um serviço de inteligência que funcione e uma justiça que não seja dúbia e parcial para que os bandidos saibam que seus crimes estão sendo cuidados com rigor. Uma sociedade justa é a ponte para a fraternidade.

3) "Mulher feia não merece ser estuprada". Nenhuma mulher merece ser estuprada. Toda mulher precisa ser livre para ir e vir altivamente e precisa ter sua integridade física e moral garantida pelo Estado.

4) A maioridade deve ser considerada desde os 16 anos. Este não é um problema. Todos sabem. A adolescência é um período ainda de formação. Se o adolescente delinque, o que está falhando é a formação, portanto é a família e a sociabilidade que estão falhando. Logo, os espiritualistas não podem aceitar a redução da maioridade sem antes exigir que se modifiquem a formação e o modo de funcionar da sociedade. Isso é compromisso espiritual.

5) Ensino religioso nas escolas. Qual é a religião que vai se ensinar nas escolas? A Bíblia, a Torá, o Corão, O livro dos Vedas, entre outros? É claro que um espiritualista tem de considerar a humanidade como uma mesma família, algo que a religião enaltece, mentindo deslavadamente. Os humanos precisam acreditar em algo, inclusive, apenas na energia, no evolucionismo ou até mesmo nem crer, o que não o faz ser menos filho cósmico.

6) Homossexualidade - Os seres humanos são humanos e só. São livres para expressarem os estímulos da sua natureza da forma que sentem espontaneamente. Todos têm o direito de saber que existem seres diferentes, em relação à sexualidade e isso não é ensinar alguém a ser do mesmo jeito. Os heterossexuais sabem que não se aprendem sexualidades. Os desejos se manifestam. Logo, espiritualistas não podem ter preconceito e precisam se manifestar sempre que alguém, grupo ou ideologias quiserem mentir a respeito. Isso não é oposição, é dever espiritual.

7) Negros, nativos e estrangeiros, pessoas trans e pobres. Um espiritualista não compartimenta pessoas, não as diferenciam por motivos quaisquer, antes as unificam pela humana natureza que possuem. Qualquer argumento em contrário pode servir politicamente, mas não serve espiritualmente.

8) Igualdade, liberdade e fraternidade. Estes tópicos, antes de serem ideológicos, são estritamente espirituais. Falar disso não é se opor a ninguém, é tão somente colocar as coisas como realmente tem de ser colocadas.

9) Corrupção. Desde que o mundo é mundo que a Política é corrupta. Assim, nenhum político pode se declarar honesto, porque, em algum nível ou grau, todos são corruptos e a História ilustra muito bem isso. Um espiritualista não pode exigir outra coisa que não seja honestidade, mas como a corrupção é evidência, entre todos os grupos políticos, ou se consertam todos ou se exigem, pelo menos, que os direitos fundamentais das pessoas sejam respeitados. Por causa de uma relativa honestidade e por causa da luta contra a corrupção, aceitar um cesto de maldade contra direitos fundamentais não é algo com que um espiritualista possa concordar.

10) Livre Arbítrio. Esta é uma lei que nem os deuses conseguem mudar. Sempre haverá pessoas fazendo coisas muito boas e outras fazendo coisas muito ruins ou medianamente boas ou ruins e o que a sociedade e as demais pessoas precisam verificar é se estão velando pelo bem maior, que é aquele que, como um sol, precisa abranger todas as pessoas indistintamente. Se sob o guarda chuvas de qualquer mandatário não cabe uma pessoa sequer, do ponto de vista humanitário, o problema não é de quem se opõe, mas de quem apoia.

11) Todos os regimes de quaisquer ideologias são mentirosos e querem confundir as mentes e os corações. Os espiritualistas tem a função de distinguir mentiras e confusões para que a plataforma espiritual não se contamine. Se alguns dos tópicos espirituais pareçam com tópicos de alguma ideologia, todos precisam saber que o Espiritualismo Consciente não tem outra ideologia a não ser a da inclusão. Portanto, qualquer que seja a plataforma política que se apresente como excludente não será contemplada pela espiritualidade. Isso não é Política, é espiritualidade. Lamento demais se minha espiritualidade toca a sua preferência política causando algum incômodo, mas o amor pela humanidade tem de ser maior do que nosso desejo de castigá-la, por causa dos seus erros, haja vista que estamos todos errando, sobretudo, quando escolhemos censurar, julgar e condenar as demais sem honestamente nos corrigirmos.