Estamos aqui para resolver ou para brigar? - Terceiro Artigo

Ao mesmo tempo em que a vida moderna está cada vez mais complexa, em termos comunitários e que a intolerância e o preconceito se espalham mundo adentro, também nunca foi tão fácil identificar os indivíduos que ostentam sinais latentes e evidentes de desagregação. Quando ouço nomenclaturas velhas para o que está ocorrendo sob nosso olhar atônito, fico um tanto incomodado, porque termos como fascista, comunista, direitista, esquerdista, dentre outros, obscurecem demais o objetivo de demarcar quem contribui para a paz e para o bem viver de todos e quem contribui para o conflito e para o mal viver da parte menos favorecida das pessoas.

Existem apenas três categorias de pessoas no mundo: as boas e as más deliberadamente, seguidas pela terceira categoria que são as que não sabem o que dizem; o que fazem e qual o seu papel na comunidade. Como as pessoas más são as que têm mais poder de persuasão, já que ocupam o topo dos setores sociais, sejam na Política, nos negócios ou na mídia, o terceiro grupo geralmente repercute inadvertidamente os pensamentos mais tortuosos e toscos, sobretudo, porque um dos trunfos das pessoas más é deturpar conceitos valorosos, dilatar pré-conceitos tradicionalistas, moralmente associados ao proselitismo moral e religioso, embaralhar os contextos humanitários e formar bordões que promovem facilmente a formatação cruel das opiniões que incautos, desavisados, não esclarecidos e ignorantes colocam em movimento no dia a dia.

Dessa forma, quase tudo que se ouvem sobre algumas políticas internacionais que favoreçam países mais pobres ganham sentido político estranho à realidade. Assuntos internos como Bolsa Família, Auxílio Reclusão, Cotas para negros em universidades, programas educacionais gratuitos para pessoas carentes, criação de leis de inclusão social dos grupos minoritários e tripudiados pelo preconceito, como as políticasde acolhimento e de visibilidade dos dramas incontáveis dos gays, lésbicas, transexuais e demais gêneros são vistos e comentados como absurdos e não como condutas humanitárias honrosas que elevam o que há de humano naqueles que sempre foram tratados com desumanidade.

Noutra frente, os mesmos grupos se omitem aos lucros exagerados dos empresários e dos banqueiros, obtidos por negócios escusos, informações privilegiadas, negociatas com políticos e presidentes de empresas públicas, além dos juros infames da sonegação de impostos e ou das negociações nababescas para acertos dos seus empréstimos, tomados com facilidades vergonhosas que vão, desde as condições inconfessáveis para pagar longamente, aos perdões indevidos quando para regularizarem os calotes. As mesmas pessoas que lutam para aprovar uma previdência que massacra os trabalhadores de verdade são as que fecham os olhos para quem sonega e leva vantagem sobre a previdência.

São as mesmas pessoas que aplaudem a safra espetaculosa do Agronegócio, obtidos pelas condições de incentivo ao setor, como linha de crédito incrivelmente facilitada que olham para os movimentos dos sem teto e de sem terra como sendo a expressão do demônio social, normalmente vistos como vagabundos que vivem de invadir terras e fazer badernas. Embora, muitos destes movimentos estejam associados ao Esquerdismo, a sociedade teria de admitir que há uma concentração imoral de terras e que o país nunca se preocupou de verdade em compartilhar as terras com seus cidadãos de forma justa, causando melhores condições de vida no campo e evitando o inchaço das cidades. Os bons que pensam nisso são tachados de esquerdistas e comunistas e os maus que pensam o contrário são aplaudidos por uma maioria, na qual estão inclusos muitos dos que seriam beneficiados pela transformação.

As exatas pessoas que querem a pena de morte para os infratores criados pelo mau funcionamento do Estado são as que defendem que as mulheres não abortem e garantem que a vida já é uma vida no dia seguinte da fecundação. Guardados os extremos, uma vida recém-fecundada só pode ser valorizada extremamente se todas as vidas já surgidas forem respeitadas e mantidas decentemente. As mesmas pessoas que querem o pior para os bandidos pobres, pardos, negros e desprovidos socialmente são as que fazem vistas grossas para os grandes bandidos de colarinho branco que, apesar de não pegarem em armas e assassinarem e estuprarem suas vítimas, ao roubarem e desviarem a grana do Estado ou gananciosamente lucrando mais do que devem e merecem, ocasionam todas as violências desencadeadas pelo descuido da sociedade com todas as vidas que a compõem.

O mundo está tremendamente obcecado para reprimir os já oprimidos e para facilitar a vida dos que já conseguem facilidade criminosamente, tendo suas atividades como algo justo e grandioso. No Brasil, isso se agravou muito nos últimos três anos, porque um grupelho de pessoas se apropriou das informações, achou trânsito nas redes sociais e fez circular um conjunto de informações falsas sobre o verdadeiro Brasil e as pessoas boas ficaram sem voz, enquanto as pessoas más e as sem noção puderam gritar e sinalizar como sendo real o que não passa de uma grande mentira.

Nos últimos 20 anos o Brasil mudou para melhor em diversas áreas e estava caminhando, ainda que aos trancos e barrancos, para um ponto que seria a base de uma construção de Estado mais próximo do ideal, e agora, tudo indica, irá retroagir, porque o pensamento excludente jamais construirá algo que seja bom para a maioria e é o pensamento excludente que está prevalecendo depois das manifestações de 2013.

Nenhum político, partido, grupo ou outsider consegue resolver os problemas cruciais do país. Ou faz alianças ou não governa. Se você conhece algum, a gente o elege e o Brasil será um país no qual ninguém precisa opinar; apenas sugerir aperfeiçoamentos. Mas, em verdade, eleja-se quem eleger-se terá de aliar-se aos grupos maldosos de sempre: a bancada da bala, a bancada da bíblia, a bancada do agronegócio, a bancada dos interesses do mercado e estes grupos são formados por pessoas más, raras exceções e por pessoas mal intencionadas que pertencem ao terceiro grupo de pessoas, aquelas que não sabem o que fazem; o que dizem, porque fazem, porque dizem e que não conhecem conscientemente sua responsabilidade de representar a todos, em todos os níveis do governo.

Todos os presidentes, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores têm necessariamente de serem pessoas boas ou pelo menos serem - a maioria. Não são, porque na proporção entre os humanos, as pessoas realmente boas, aquelas que querem o seu bem e o de todos, são minoria, são os diferentes e serão sempre engolidas pelos gigantes do mal que nunca dormem. Por isso, a Política com p maiúsculo somente vai funcional quando o povo eleger a vontade de ver o bem prevalecer perante todos e lutar pelas coisas boas, pela justiça, pela igualdade e pela inclusão. Fora disso, todas as lutas argumentativas, opinativas e manifestações serão parciais e infrutíferas. Nenhum governo será puro, nenhum partido será competente de fato, nenhuma configuração congressual ou parlamentar será boa - e o criticismo permanecerá sendo somente uma grande perda de energia.

Quanto a Justiça que se pleiteia também será sempre engolfada pelo mal, porque os juízes também são pessoas e pertencentes a uma das três categorias. Contra a bondade há a torrente dos interesses financeiros e numa sociedade movida pelo capital exacerbado, pela concentração de rendas e pelo desejo de ascender financeiramente rapidamente, a chance de a justiça ser justa, isenta e igualitária é zero. Por isso, é uma temeridade perseguir alguém politicamente, em detrimento dos demais, como é uma temeridade ver alguém como a solução irrestrita de todos os dilemas porque também isso não é ideal e muito menos real.